A Visão e a Voz

Os 30 Éteres e os Anjos que os Regem

Projeto Xaoz
21 min readFeb 6, 2019

No Liber 418 — A Visão e a Voz, Crowley descreve os resultados da Operação de Paris, posteriormente continuada no México e na Argélia. Esta operação iniciou-se por volta de 1900, e ao longo dela, utilizando ritualísticas de magia enoquiana e Mágicka Sexual, Crowley e o poeta inglês Neuburg evocaram os anjos que regem os 30 Æthyrs, Éteres ou Ares.

Os 30 Éteres são camadas concêntricas posicionadas acima do nosso mundo, onde o trigésimo fica logo após as torres de vigia, e o primeiro fica no plano mais elevado, tocando o Paraíso. Alcançados em ordem numérica decrescente, são dimensões sutis que se posicionam de forma holográfica e fractal acima da dimensão presente. Neste sentido, em uma perspectiva cabalística, a árvore da vida de cada conjunto de 3 Éteres, centralizada em sua Sephira Tiphareth, seria a Malkuth para a árvore da vida dos Éteres seguintes.

Cada Éter provê a Crowley uma visão, com anjos que trazem mensagens sobre o final do Aeon de Peixes e o início do Aeon de Aquário. São apresentadas nas visões instruções para transcendência pessoal, para o encontro com o SAG, e para a vivência da Thelema em toda a sua plenitude.

Imagem: o brado do trigésimo Aethyr, por Mitchell Nolte (deviantart).

30º Æthyr — TEX

Neste éter, são mencionados quatro arcanjos, que usam túnicas negras, e cujas armaduras e asas são trançadas com fios brancos. O Mago se encontra em um cubo translúcido envolto por uma esfera de luz, ao centro dos anjos.

O anjo do Norte possui um livro onde está escrito AMBZ em caracteres enoquianos. Ao abrir seu livro, explica sobre a ruína do atual Aeon. O anjo do Leste segura um livro vermelho com caracteres azuis ABFMA. Ao abri-lo, surgem pessoas vestidas de branco e uma chuva de sangue no céu. Também surge um sol flamejante com um olho no Centro.

O anjo do Sul fala que o Mago tem o dever de cortar a cabeça do dragão, e atrás de si brilha uma suástica, símbolo solar Oriental. O anjo do Oeste segura um livro com os caracteres AN, e ao abri-lo revela-se um escorpião, flamejante porém frio.

29º Æthyr — RII

No 29º éter, são citados aspectos referentes aos quatro elementos. Um leão ferido, um touro branco que segura os céus com sua espada, uma águia e um humano. Figuram na visão dois possíveis anjos. O primeiro é um anjo com características de águia, cujas asas são decepadas, e o segundo um soldado sobre um cavalo, com face terrível, que segura um chicote e uma balança, e possui uma lança reluzente em suas costas ou em suas mãos.

Após as explicações do soldado acerca do julgamento, a visão colapsa e é sugada por uma esfera de ouro e safiras. Após a visão, antes de dormir, Crowley vê um ovo de luz com uma letra Daleth brilhante escrita sobre ele, em caracteres da Travessia do Rio.

28º Æthyr — BAG

Nesta visão, surge um anjo com vestimentas opalescentes, e com uma roda de fogo que gira à sua frente. Em sua mão, há um mangual, e seu rosto é negro, com olhos brancos sem pupila ou íris. Seu peito é humano, ensanguentado, mas o resto de seu corpo possui escamas como as de um peixe, e muitas patas articuladas como as de uma centopeia, assim como uma cauda de escorpião. Suas asas possuem penas brancas e pretas.

O Mago coloca seu foco em uma pedra oval de safira que se encontra no peito do anjo, e onde brilha um símbolo, assim como vários escritos que mudam de tempos em tempos. O anjo lhe explica sobre a quebra da dualidade, e o equilíbrio entre os dois lados. Há uma luta, e o anjo desenvolve tentáculos, sendo ferido no peito por Crowley como muitos magistas já haviam feito antes.

27º Æthyr — ZAA

Neste Éter, Crowley se depara com um anjo de asas multicoloridas que se diz filha de Nuit, ou Hécate. Sua aparência é a de uma mulher de 30 anos, com vestido verde e prata, uma armadura prateada coberta por um véu verde, uma tiara na forma de lua e sapatos de pontas curvas como duas luas.

O anjo sopra anéis opalescentes sobre uma rosa de 49 pétalas que está em um caldeirão, e a rosa muda suas cores. Posteriormente, o anjo chora sobre o caldeirão e o enche de luas. De seu interior sai um dragão chinês, e surgem milhares de soldados correndo pela visão, com suas espadas cintilando em azul acinzentado, até que ela termina.

26º Æthyr — DES

O anjo deste Éter é todo preto, com asas, pele e armadura pretos, e do meio de seu peito sai um ovo dourado, de onde surge uma águia também dourada. O anjo fala sobre o episódio bíblico de Ló, cujas filhas cometeram incesto ao pensarem que a humanidade havia acabado e se sentirem responsáveis por dar continuidade à espécie.

Na visão, a águia dourada é ferida de tempos em tempos por agentes invisíveis, e seu sangue enche os céus. São apresentadas as frases “a Igreja abomina o derramamento de sangue”, e “não da forma que eles entenderam”. A visão termina quando o sangue coagula, tingindo o céu de negro e dando lugar a uma imagem da deusa Nuit, com um disco alado e um altar a Ra-Hoor-Khuit.

Imagem: leão engolindo o Sol em tratado alquímico.

25º Æthyr — VTI

Neste Éter, se apresentam três anjos, um deles com asas brilhantes segurando uma ânfora, outro montando um cavalo branco e um terceiro sobre um touro preto. Os dois últimos são engolidos por um leão, que explica que derrotou a Vitória e a Morte (dois dos cavaleiros do Apocalipse).

O leão vaga pelo Aethyr com uma besta coroada sobre suas costas, e os pelos de sua cauda formam diversas imagens, como uma planície onde soldados estão lutando, montanhas, templos e cidades. Outro anjo aparece, vestindo uma armadura prateada, e segurando uma espada e uma balança.

24º Æthyr — NIA

Neste Éter, há um anjo na aparência de um guerreiro com uma cota de malha e um leque de penas cinzas sobre a cabeça. A seus pés se reúne um exército de escorpiões, cachorros, leões, elefantes e outros animais.

Há uma carruagem, onde o mago se une a um segundo anjo, na aparência de uma mulher com cabelo e pele dourados vestindo um robe muito fino com 7 cores. Surgem serpentes cujos corpos formam frases, e em torno destas serpentes as letras TARO são utilizadas como iniciais para frases de 4 palavras que reúnem conhecimentos e regras para todos os caminhos da magia, de mão direita e de mão esquerda.

23º Æthyr — TOR

O anjo deste Aethyr aparece como uma entidade Assíria com asas e cabeça de touro. Após ser coberto por camadas de tecido prateadas, roxas e douradas, o anjo se metamorfoseia em uma outra entidade Assíria, dessa vez com cabeça de águia e usando uma coroa.

A águia explica que ela e o touro se complementam, com seu guincho estridente e sua voz grave, assim como a cruz e a rosa se complementam. Menciona a forma pela qual os símbolos místicos possuem equilíbrio próprio, como os dez vértices do pentagrama, os doze raios da Estrela de Salomão, e os 34 redemoinhos do martelo de Thor.

22º Æthyr — LIN

Primeiramente, é visualizada uma tábua com 49 letras, cada uma das quais é composta por outras 49 letras, aparentemente as do alfabeto de Honório (ou alfabeto Tebano). A tábua está cercada por uma miríade de anjos, desde os elementais, inferiores, até os mais superiores e brilhantes.

Então, surge um anjo vestindo uma roupa multicolorida, com uma tiara vermelha, azul, dourada e preta, como cascatas de água. Em sua mão, segura uma flauta de pã com 7 tubos feitos dos 7 metais planetários. O anjo apresenta o nascimento da Forma, da Morte, e do Inferno.

21º Æthyr — ASP

Nesta visão, de um céu escuro e sem vida, irrompe uma sala com vários pilares apoiados por esfinges e um trono, todos feitos de mármore negro. O anjo que se senta nele é invisível, e é apenas possível ver seus olhos azuis. Então, a divindade se comunica com o Mago por meio de vários sabores, em seguida por meio de sons de zumbidos, sinos e tempestades.

O Mago tenta cortar as pálpebras do terceiro olho do anjo, mas estas são feitas de diamante, e o anjo diz que para isto a adaga teria que ser afiada sete vezes, por sete ordálios. Ele é expulso de perto do trono em seguida, e outro anjo aparece, aconselhando que parta.

Imagem: pintura da Roda de Ezequiel, na Catedral de São João Batista, Macedônia.

20º Æthyr — KHR

Um grande pavão se apresenta com suas penas multicoloridas nos céus. Hordas de anjos brancos se apresentam enquanto o pavão se dissolve, e estes anjos se transformam em 49 rodas com 49 raios cada que, juntas, formam uma esfera. Os limites da esfera são formados por uma serpente verde, e em seu centro brilha um coração vermelho.

Uma mão sem corpo gira a esfera. Sobre a roda se apresentam uma esfinge, Hermanubis e Tifão. Também há os símbolos do carneiro, da bandeira, do lobo e do corvo. Então, o rosto que pertence à mão se mostra, e é como a luz flamejante de um sol se pondo. Várias cruzes aparecem e se cruzam até formar uma malha, e a visão termina.

19º Æthyr — POP

A porta para este Éter, guardada por um dragão verde, é aberta pelo Eremita, e a visão inicial é a de vários soldados lutando uns contra os outros, cada um por si. A árvore da vida se encontra no meio da visão, e seus frutos caídos são os guerreiros mortos. O deus Sebek, com cabeça de crocodilo, aparece, e engole a árvore.

O anjo do Éter aparenta-se à temperança do Tarot, com asas azuis, sapatos de lua crescente, uma taça e uma tocha em suas mãos. Seus cabelos são dourados e cheios de estrelas. Nos lábios do anjo se delineiam as iniciais IHS, com diversos significados possíveis. Nesta visão, também é mostrada a tábua enoquiana de doze elementos, e o alfabeto das adagas.

18º Æthyr — ZEN

Neste Éter, há um grande morcego crucificado ao lado de duas crianças, também crucificadas. Na noite, é possível ouvir uivos e ver bestas assustadoras. Um anjo aparece e rasga a visão, apresentando 72 colunas flamejantes que suportam um palácio de cristal com uma pirâmide de rubi no centro. O Mago entra na pirâmide, e vai até uma sala, onde há um trono.

Posteriormente, o anjo leva Crowley para uma mesa, onde outro anjo, mais jovem e com roupas brilhantes, oferece a ele pão, fogo, uma rosa, e vinho, representando trabalho, sagacidade, pecado, e morte. Apresentam-se Ísis e Néftis segurando Rá. São explicadas em seguida as instruções para aceitação de neófitos no culto que viria a se formar, assim como as cores das letras para a escrita das instruções de cada Éter.

17º Æthyr — TAN

A visão inicia com uma cabeça de dragão, e posteriormente a visão do anjo Madimi, como uma garota de seis ou sete anos, porém de forma mais brilhante e poderosa do que aquela descrita por John Dee. Em seguida, há um anjo talhado em diamante negro no meio de uma esfera de luz líquida que fica dourada, verde, e então azul.

Outro anjo aparece, usando uma armadura com estrutura prateada e incrustações de madrepérola. O anjo explica sobre a conversação com o Sagrado Anjo Guardião (SAG), e diz que ela deve se dar com a cabeça descoberta, em um lugar solitário, sob a luz do sol. Pratos são tocados, seguidos por um sino tibetano que toca três vezes, e a visão termina.

16º Æthyr — LEA

A visão inicia com uma virgem coroada montada sobre um touro, andando em uma paisagem. Ela comenta sobre a união entre a Virgem e a Besta, e sobre o filho nascido desta união, que é o guardião do labirinto de 72 caminhos. O anjo do Éter aparece como um poderoso rei com coroa, orbe e cetro, roupas douradas e roxas, e cabelos dourados com fios prateados. O rei cai ao chão, sua coroa fica empoeirada e seu trono despedaçado.

Surge um rosto andrógino, com um círculo sobre a cabeça (Nuit) e outro no coração (Hadit), com Ra Hoor Khuit entre suas pernas. A figura veste a coroa egípcia Uraeus (que estiliza a cabeça da cobra naja), um robe laranja flamejante e uma pele de leopardo. Nas mãos da imagem, um cetro e um livro. A virgem montada no touro retorna, e ao seu redor dançam muitos anjos.

Imagem: Pan e Syrinx — Jean François de Troy.

15º Æthyr — OXO

Surge uma coluna de fogo vermelho, próxima a quatro pilares: verde, azul, dourado e prateado. A coluna de fogo revela-se como a saia de uma deusa que dança. Durante a dança, a deusa tece uma grade rosa, que se torna um anfiteatro com 7 arquibancadas divididas em 7 seções cada, feitas de mármore rosa. No meio do anfiteatro surge um altar de esmeralda, onde aparece o deus Pã. Aqueles que se sentam nas primeiras 6 arquibancadas adoram a Pã na forma de homem, bode, carneiro, caranguejo, íbis, águia, e os da 7ª arquibancada, mais interna, não o cultuam.

Apresenta-se a tábua enoquiana de 12 elementos, onde as fórmulas demoníacas são lidas de forma diagonal, e os nomes de Deus para invocar fogo, água, ar e terra são OIT, RLU, LRL e OOE. A paz é mantida pela letra I sobre a combinação LLL, e nos cantos há letras B que mostram a glória de Nuit. As letras são apresentadas também como símbolos das constelações, que permitem ao homem controlar as forças da natureza.

Surge uma pirâmide de diamante negro com uma rosa no topo, e as pétalas da rosa se tornam o pôr-do-sol. Em seguida aparece um anjo com vestes azuis e vermelhas, asas douradas e chamas de fogo roxo, que espalha pela visão vários discos verdes e dourados.

14º Æthyr — UTA

A visão se inicia com um bode branco, um dragão verde e um touro marrom. Em seguida, muitos véus negros se apresentam, e o Mago os rasga. Finalmente, há um terremoto que rasga os últimos véus, e surge o anjo do Éter.

O anjo está sobre o símbolo de Apophis e de Tifão, e tem uma estrela sobre sua testa. Atrás dele, há escuridão, com lâmpadas flutuando e rugidos de feras. O anjo informa que só pode ser evocado durante a noite, e Crowley o contacta novamente mais tarde. O anjo informa que é o próprio Caos, e é feito de escuridão, mas também é Hermes, o mensageiro dos Deuses. Aos seus pés existem vários sábios, sentados, imóveis, cobertos por véus pretos, na forma de pirâmides.

13º Æthyr — ZIM

O Éter possui uma coloração dourada, e sobre o chão dourado há um espelho d’água cristalino. Um anjo dourado anda sobre as águas, que fervem sob seus pés, e há um arco-íris sobre sua cabeça. Dois gigantes negros lutam entre si, e um pássaro bate suas asas, quebrando totalmente os ossos dos gigantes, que caem ao chão. Na próxima cena, o mago está no jardim de um castelo sobre uma montanha. Há diversas flores coloridas que se metamorfoseiam em jovens dançando.

Surge outro anjo, na aparência de um homem vestindo um robe de linho branco. Este anjo diz que todo homem que viu a face de Deus se chama Nemo, tendo plantado um jardim regando o deserto com as águas da morte, nas aparências do jardim a Leste do Éden. O anjo explica que há alguns jardins de Nemo em diferentes localidades, como por exemplo uma ilha no mar aberto, um vale em montanhas congeladas, um oásis no deserto, uma planície rochosa, e uma planície verdejante.

Transportando-se agora para o interior da terra, vê-se um homem com véu, jogando ácido nas raízes de uma flor, queimando e cortando as de outras. Outras flores têm suas raízes cobertas com óleo. O anjo fala que Nemo não vê as flores crescendo, mas cuida das raízes da forma esperada, pois ao acessar os Aethyres 1 a 15 ele obtém as respostas corretas. O anjo faz o sinal de Ísis segurando Hórus no colo, e a visão termina.

12º Æthyr — LOE

A visão inicia-se com uma carruagem de luz branca sobre dois pilares de fogo. A carruagem tem o formato de uma lua crescente, é puxada por quatro esfinges, possui um dossel de oito pilares de âmbar, e suporta a noite inteira sobre si. O comandante veste uma armadura dourada com safiras, uma capa branca e uma vermelha, e sobre sua cabeça há um caranguejo. Ele segura um cálice em sua mão.

O cálice contém vinho, e o anjo explica sobre a glória de Babalon sobre toda a Terra, pois ela se entrega a todos e assim todos obtêm a compreensão. No céu, surge Babalon montada em uma besta, que é o Senhor da cidade das pirâmides do 14º Aethyr. O Anjo explica sobre a magia de sangue e a magia sexual. Surgem seis crianças, que lançam um fino véu sobre o cálice de vinho na mão do anjo, que se apaga.

11º Æthyr — IKH

Neste Éter, aparecem hostes de anjos com armaduras prateadas, asas em seus elmos e em suas costas. Alguns anjos estão montados em elefantes e estão armados com os raios de Zeus. Os outros possuem espadas e lanças em suas mãos, e escudos com o olho do Tetragrammaton e chamas nas cores branco, vermelha, preta, amarela e azul. Atrás deles seguem artilheiros que lançam meteoros. Em seu centro, embora não visível, há o deus Egípcio Shu, representando o Ar.

Há nove torres de vigia de ferro protegendo o exército. O capitão da hoste se apresenta ao mago, vestindo um ciclone de vento ao seu redor. Ele apresenta a Fundação (Yesod) da Cidade Sagrada, e avisa sobre as defesas e a simultânea entrega que devem ser utilizadas na jornada pelo Abismo, encontrando-se com o Demônio Choronzon. Avisa que, em cada Abismo, o magista deve vestir a face do Anjo que o rege, e assim se tornar o próprio. Além das nove torres, o mago vê o Abismo, e a visão termina.

Imagem: demônio de várias faces, por Po-Wen.

10º Æthyr — ZAX

Neste Éter, Crowley e seu escriba enfrentam o demônio Choronzon, criador de toda a forma e manipulador de aparências. A preparação para o ritual é mais intensa do que nos outros, e o demônio toma diversas formas, sendo a primeira delas a de uma cortesã, para tentar seduzir o escriba e fazer com que ele saia do círculo de proteção. Em seguida, pede misericórdia ao Escriba, imitando a voz do próprio Mago.

Choronzon explica que o brado do décimo Éter não possui estrutura contínua como os outros, pois se trata de dispersão pura. O demônio fala diversas frases para que o Escriba se mantenha ocupado copiando, enquanto joga areia sobre uma parte do círculo de sal. Ao conseguir abrir uma brecha, salta sobre o Escriba, que comanda Choronzon de volta para o triângulo pelo nome do Tetragrammaton. As explicações deste Éter são sobre o Caos e sobre como o mundo que chamamos de real é apenas uma ilusão.

9º Æthyr — ZIP

O mago caminha sobre uma linha tênue de luz suspensa sobre o abismo, e do outro lado vê muitos exércitos de anjos. Um dos anjos se aproxima e pergunta o que o magista deseja, e quem ele é. Após narrar sua jornada até ali, o anjo convida-o para um banquete em meio a várias pedras preciosas.

O palácio onde se encontram revela-se como o corpo de uma criança, que é a filha de Babalon. Surgem imagens de véus, nuvens, vasos, porcelanas e outros objetos delicados que buscam explicar a pureza de tal Ser. Surge outro anjo, com uma suástica atrás das costas, que leva o mago para uma dentre 9 torres, e lhe mostra mapas de várias cidades místicas, até que a visão termina.

8º Æthyr — ZID

Uma pequena faísca de luz aparece, se transformando em um leque, depois em uma espada, e finalmente em uma pirâmide de luz que preenche todo o Éter. A pirâmide é ao mesmo tempo um anjo, sem forma específica, pois ele é a própria substância da luz que a compõe. O anjo explica sobre dualidades, e sobre como deve ser feita a conversação com o Sagrado Anjo Guardião.

O magista deve ir para uma câmara sem janelas, com teto e paredes brancos, quadrados pretos e brancos no chão, e bordas azuis e douradas. Do teto deve pender uma lâmpada de vidro vermelho onde será queimado óleo de oliva. No altar, incensos e óleos são usados para a cerimônia. O simbolismo nas túnicas deve ser o do triângulo azul de Nuit descendente, com o triângulo de Hadit vermelho ascendente, e o Tau dourado no centro.

7º Æthyr — DEO

A pedra de evocação aparece dividida, metade escura e metade clara, com três colunas estampadas, e um buraco de fechadura na forma do símbolo de Vênus. Um anjo tenta abrir a fechadura com várias chaves, mas não consegue. Uma voz fala sobre a importância das palavras ABRAHADABRA, BABALON, LOGOS, ChAOS e TARO, e sobre o simbolismo numérico de suas letras, assim como o de outras palavras.

Surge um pavão cósmico, e em seguida visões de planícies e desertos, uma águia, um emaranhado de fios de ouro com as pontas escarlate, e a deusa Shakti montada em um golfinho. Ela aparece novamente com sete rosas e sete estrelas sobre a cabeça, em um trono de turquesa e lápis-lazúli, sustentado sobre imagens de um carneiro, um corvo, um gato e um peixe.

6º Æthyr — MAS

Surge um anjo chamado Avé, trazendo os símbolos do enxofre e do pentagrama, harmonizados pela suástica. As imagens neste Éter se formam e dissolvem com extrema rapidez, e são criadas por Thoth na sua forma de babuíno, correspondendo a todos os pensamentos que o próprio Crowley já teve em sua vida. O magista tenta lutar para abrir o véu do Éter, até que percebe que deve apenas sentar-se como uma pirâmide e esperar.

Surgem estrelas e a visão do deus Mercúrio sobre a lua, com as letras hebraicas He e Vau que são Enxofre e Sal. A suástica negra com uma coroa de fogo é Aleph, e abre caminho entre as estrelas para que o magista se eleve. Surgem três magos nus, com as cores branco, amarelo e preto. Os dois primeiros usam tecidos para tapar sua nudez, enquanto o terceiro zomba do fato de estar nu.

A voz de Deus é ouvida, Este revela que se encontra no meio de uma teia de aranha, e que os magos devem vir até a verdade, pois ela não pode ser explicada completamente, sem risco de mal-entendidos, apenas por meio de palavras. Thoth expulsa o magista da visão, e ela termina.

Imagem: dragão por treijim em DeviantArt.

5º Æthyr — LIT (parte 1)

Surge um pilar com um olho inscrito em um triângulo no topo. Novamente pergunta-se sobre o equilíbrio numérico das palavras. ABRAHADABRA equilibra 5 e 6, mas o magista deve descobrir as palavras que equilibram 7 e 4, e também 8 e 3. Surge uma avenida de pilares, com deuses de diferentes culturas sentados no topo de cada um. No final da avenida há uma clareira cercada por 9 avenidas de pilares, e no centro uma altíssima capela para o Deus Supremo.

Um anjo levanta o magista até o topo da capela, que é guardada por anjos com trovões, espadas e lanças nas mãos. No topo, há anjos com estrelas prateadas na testa, que perguntam a senha. A senha é “Deus Não Existe”, com ênfase na palavra “Existe”.

O anjo do Éter surge, todo preto, com uma armadura de escamas pretas e pontas douradas. Seu rosto é como o de um dragão, e as asas possuem garras nas pontas. Ele explica que a senha significa que não Existe um Deus específico, naquela capela específica, ou em nenhuma outra. Ele existe em todas. Todas as religiões do mundo são como partículas do sopro do dragão, e permitem chegar a Ele.

5º Æthyr — LIT (parte 2)

A segunda evocação é feita em silêncio, conforme ensinado pelo Dragão do Éter. Surge um anjo branco, que dá as boas vindas ao mago e logo parte. Em uma névoa azulada, há uma criança com cabelos cacheados e pele dourados, e olhos azuis. A criança segura uma cobra em cada mão, uma azul e uma vermelha, e veste apenas sandálias vermelhas. Ela se apresenta como filha de Ísis, e seu nome é Eros. Ele comanda que o mago pegue a aljava e o arco de suas costas e o mate.

O magista atira uma flecha branca contra Eros, que cai no chão sem atingi-lo, e no mesmo momento seu próprio coração é atingido por uma flecha preta e espinhosa. O veneno da flecha faz a visão mudar, com vozes que explicam a dissolução da dualidade. Pois o mago é Eros, e Eros é o próprio mago. Abaixo do Abismo, a divisão causa incompatibilidade; acima dele, a divisão preserva a unidade.

4º Æthyr — PAZ

Uma hoste de anjos azuis e dourados vêm ao encontro do magista, e falam que o dia do apocalipse está próximo. Surge um deus com mil braços, com uma arma poderosa em cada mão. Seus olhos são como trovões e de sua boca escorrem oceanos de sangue. Ele possui uma coroa feita de objetos mortais, e sobre seus ombros encontra-se uma criança, como a do nono éter. O deus negro é tingido de azul nos pontos onde a menina o toca, e a menina dourada é tingida de rosa nos pontos de contato.

As unhas da menina se prendem ao redor do pescoço do deus, e os dois urram de dor e angústia. De forma paradoxal, esta cena representa a paz. O movimento do Cosmos é gerado pela tensão contida no Caos, que é uma guerra entre a rosa e a cruz. Uma voz demanda que o magista repouse e aguarde o anjo Hua, que trará o terceiro Éter.

3º Æthyr — ZON

Surge um ponto de luz, o Sol verdadeiro, cercado por uma serpente de esmeralda. Os raios que saem do sol são as plumas da deusa Maat, das quais a própria serpente se alimenta. O sigilo do éter é dourado, azul e verde, representando as Severidades. O número deste Éter é 280, composto por ל , ד e ג (Sol, Libra e Escorpião), ou a Luz, o Equilíbrio e a Oposição. Este número representa o conhecimento unido dos quatro demônios Satã, Lúcifer, Leviatã e Belial, ou das quatro divindades Jesus, Brahma, Allah e Buddha (70 x 4 = 280).

Este Éter representa a destruição das ilusões do mundo contidas nas 22 imagens arquetípicas primordiais (cartas do Tarot ou letras hebraicas), em busca da visão do funcionamento por trás do Cosmos. O Mago catalisa o momento, com uma tocha em uma mão, um cálice de veneno na outra, um círculo trino sobre a cabeça, e facas, adagas e espadas sob os pés. Os objetos cortantes estraçalham o éter, e o magista tenta se proteger.

A destruição é interrompida por um triângulo preto que surge no centro do Sol, e surge uma dama com roupas verdes, cabelos dourados e olhos azuis. Atrás dela há uma menina, com um símbolo do Sol Negro atrás da cabeça. Um anjo surge e diz para o magista que o próximo Éter deve ser evocado usando o símbolo da Mãe, e chamando quatro vezes o ChAOS.

2º Æthyr — ARN (parte 1)

Primeiramente, surge Babalon montada em um touro. É citada uma lenda Assíria de uma mulher e um peixe, e de Eva e a Serpente, mas Caim seria filho de Eva com a Serpente, e não com Adão. Caim teria então sido o vetor de mudança do mundo, pois apenas mediante derramamento de sangue Deus prestou atenção aos filhos de Eva. A carta do Tarô Enamorados passa a ser chamada de Os Irmãos, com Caim portando o martelo de Thor, acompanhado de Eva e de Lilith. Uma criança, Abel, é assassinada com uma flecha.

Estas alegorias são misturadas entre si e ressignificadas na forma do Apocalipse, conectadas para representar os interesses da época. Uma rosa branca surge sobre a pedra, e esta rosa é o seio de uma mulher, que está preso no bico de um ganso. Esta é outra representação possível do mito de Babalon. Antes da abertura propriamente dita do véu do Éter, o magista interrompe o ritual e se prepara.

2º Æthyr — ARN (parte 2)

Um anjo explica que o Éter já foi corretamente evocado, mas que nem o magista nem o próprio anjo podem percebê-lo, pois não há símbolos adequados na biblioteca mental de qualquer um que sejam suficientes para representá-lo. A Luz é tão pura que não se formam imagens, e por isso os homens a chamam de Escuridão. É feita outra evocação em uma tentativa de se observar o Éter de forma mais inteligível.

Surgem três flechas cruzadas entre si, que são a letra Aleph no alfabeto das Flechas. O magista sente que está sendo consumido por fogo, e seu sangue parece ácido, quando uma voz diz “lembre-se de Prometeu, lembre-se de Íxion”. Surge a Vesica Pisces, com as curvas invertidas e afastadas entre si, como parênteses “ ) ( “, em frente a uma cruz preta. Esta cruz se torna um triângulo voltado para baixo, e com a face de Tifão no centro. O magista mata Tifão com uma espada em chamas.

Posteriormente, uma música é ouvida, com uma letra cantada sobre sons de flautas. Surge o anjo do Éter, de aparência grega, como Sapho e Calipso. Veste um robe negro estampado de estrelas e com colarinho verde. Sob o robe, tem uma túnica azul.

Imagem: Sapho, por Jules Elie Delaunay (1828–1891).

O 1º Æthyr — LIL

O Éter possui um véu azul escuro e cheio de estrelas. No centro, há um globo solar com asas que ilumina a tudo. Há uma consciência leve e paz profunda, como o aroma de jasmim. Surge uma criança coberta de lírios e rosas, suportada por incontáveis miríades de Arcanjos com um brilho sem cor, todos eles cegos. Surge um grande e terrível Anjo, que olha para o magista parado à sua frente como que para impedir a visão que ele antes estava tendo. A criança está parada, mas é como se dançasse, pois nela se equilibram as danças da mão esquerda e da mão direita.

O menino se revela como Hórus, a criança coroada e conquistadora, não conhecida pelos homens, e que equilibra todos os opostos. Luz e Escuridão, Fala e Silêncio, Morte e Vida, Guerra e Paz, Fraqueza e Força, nele são um só. Hórus é o líder do novo Aeon, e seu objetivo é conciliar os opostos.

Por: Projeto Daemons.

Referência: Aleister Crowley, Liber 418 - A Visão e a Voz.

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