Alfabetos Mágicos
Conjuntos Simbólicos como Paletas Energéticas
O Cosmos é muito complexo, e para ser estudado é vantajoso que seja primeiramente dividido em setores ou campos. Os elementos escolhidos para sua representação devem ser específicos o bastante para que sejam compreendidos os aspectos exatos a que se referem, mas gerais o bastante para não fazer o estudioso se afogar em uma miríade de símbolos sobre-especificados e com pouco significado. O surgimento dos alfabetos tem íntima relação com o entendimento do Homem sobre o Cosmos (e consequentemente sobre sua própria mente).
Signo, Significado e Significante
Um signo ou símbolo (significante) é uma forma de representar um elemento ou conceito (significado) sem aludir ao próprio elemento em si. Isto pode ser feito na forma de um pictograma, uma palavra ou um som, que podem também ser uma versão simplificada ou estilizada daquele elemento.
Neste sentido, uma imagem realista de um touro não seria considerada um signo, mas uma simplificação desta imagem o seria. A letra A é um exemplo de caractere que, a partir de uma cabeça de boi com dois chifres, se tornou um significante para tal.
Surgimento dos Alfabetos
Alguns alfabetos surgiram essencialmente da simplificação de desenhos mais complexos, porém outros surgiram a partir das vibrações das palavras. A questão é que a história só começou a ser escrita formalmente quando os alfabetos já haviam sido criados, e não há registros formais de sua criação, na maioria dos casos. Sendo assim, historiadores, antropólogos e linguistas se lançam sobre as evidências tentando rastrear a evolução dos alfabetos e as imagens originais que teriam dado origem a cada glifo.
Alfabetos Pictóricos — os alfabetos mais conhecidos são os pictóricos, que surgiram pela simplificação de representações complexas dos elementos aos quais se queria aludir. Dentre eles, podem ser citados os Hieróglifos egípcios e as Runas etruscas. Cada glifo significava o próprio elemento, como um animal, um objeto ou um aspecto da natureza, e posteriormente novos significados foram atribuídos a eles, por associação ou correspondência.
Alfabetos Fonéticos — alguns alfabetos buscam representar a vibração dos fonemas. Este é o caso do Sânscrito, que inclusive possui grupos de letras organizadas de acordo com o ponto na garganta onde são formadas (guturais, palatais, cerebrais, dentais, labiais).
Alfabetos Conceituais — conceitos que são muito complexos para serem representados dão origens a conjuntos de símbolos que não necessariamente representam objetos em si, mas sim conceitos. De forma geral, porém, a representação do conceito pode ocorrer por meio de um objeto associado (ex: representação dos planetas por atributos dos deuses correspondentes). Este é o caso dos conjuntos simbólicos que representam planetas e constelações, e também dos símbolos alquímicos representando substâncias e processos.
Alfabetos Canônicos — alguns alfabetos são criados por meio de regras e procedimentos puramente mecânicos, o que pode ocorrer a partir de um outro alfabeto já existente. Estas regras não possuem relação conceitual com seus significantes, mas permitem a disposição de bastões e linhas, de forma canônica, ordenadamente. Este é o caso, por exemplo, do Ogham, do Fupark comum Germânico e até certo ponto do Cuneiforme.
Além da formalização dos alfabetos em si, há vários relatos diferentes sobre a origem primordial das informações ali existentes. Alguns relatos apontam para o recebimento dos alfabetos de uma força superior, enquanto outros afirmam que foram criados por mentalização da vibração de cada fonema durante transe místico. Porém, na maioria dos alfabetos primitivos que deram origem a todos os outros, há histórias sobre entidades enviadas dos céus para comunicar a linguagem escrita (ou mesmo a falada), como Thoth, Hermes Trismegistus ou Metatron.
Evolução dos Alfabetos
A evolução das linguagens e dos alfabetos está intrinsecamente ligada à evolução das sociedades e das culturas. Separações, migrações, retornos, bifurcações, evolução paralela, separação geográfica, miscigenação entre etnias, conquistas, guerras, entre outros processos, deixam marcas que perduram até hoje, o que permitiu a estudiosos rastrearem as ramificações existentes nas linguagens humanas.
Uma das formas de se realizar isso, mais óbvia, é a comparação imagética dos glifos e a comparação analítica dos conceitos. Porém, há campos de estudo que buscam comparar palavras nas diferentes línguas, entendendo que aqueles povos se separaram na época em que já conheciam tais conceitos de forma ampla.
A raiz comum para a palavra Mãe em muitas línguas leva a crer que os humanos pertencentes a tais culturas se dividiram quando a cultura ainda era Matriarcal (Era de Câncer). A raiz comum para a palavra Estrela leva a crer que a Astrologia começou a ser estudada quando a humanidade ainda era praticamente uma só, na África Subsaariana. As raízes comuns para a palavra Ferro podem ser encontradas nas línguas de povos que se dividiram após a Idade do Ferro.
Já outras palavras (e símbolos) retornam a um denominador comum por meio do comércio internacional e do compartilhamento de material escrito, como é o caso de várias palavras em português iniciadas por AL após as trocas dos Portugueses com os Árabes. Pode-se notar que processo semelhante ocorre com os alfabetos, sendo disseminados também pelo comércio.
Paletas Energéticas
Um Alfabeto pode ser entendido como uma paleta energética, onde todos os elementos do Cosmos são representados de forma particionada, e que assim podem ser utilizados de forma organizada e purificada. Quanto mais elementos, mais específico será seu significado, e quanto menos elementos maior o número de significados atribuídos a cada um.
Elementos que não tenham sido representados ali de forma direta acabam sendo associados por correspondência ou proximidade, enquanto alguns aspectos caem em desuso. Aspectos profissionais, por exemplo, hoje são muito associados às energias de Marte, enquanto o conceito original de guerra, associado ao planeta, não tem tanta aplicação na vida cotidiana.
A comparação entre os alfabetos, por sua vez, pode ser realizada para fins de estudo, mas deve-se entender o conteúdo intrínseco de cada glifo, em separado, naquela cultura, para se ter uma compreensão mais correta de cada conjunto. Como estas paletas energéticas dividem o Cosmos de formas diferentes, pode não haver correlação direta entre um símbolo de um alfabeto e um símbolo de outro. Da mesma forma, o número diferente de elementos poderia levar cada símbolo de um alfabeto a estar relacionado a mais de um glifo no outro.
Alfabetos Mágicos
Qualquer alfabeto pode ter uso mágico, porém alguns povos têm essa tradição mais arraigada em suas culturas, o que torna alguns alfabetos mágicos por excelência. Como exemplos, podem ser citados os Hieróglifos Egípcios, o Alfabeto Tebano e o Alfabeto Hebraico, além dos Kanjis japoneses.
O uso dos símbolos pode ser feito de forma individual, quando se medita sobre determinado conceito ou invoca aquela energia, ou de forma combinada, montando-se sigilos e talismãs referentes a uma combinação de energias. Entre os exemplos de utilização conjunta podem ser citados os Insigils ou Banrunar Nórdicos, que unem significados de várias runas, ou os Sigilos circulares do Ogham, consistindo de um círculo sobre o qual traçam-se os caracteres desejados.
Alfabetos Próprios
Assim como os alfabetos milenares criados pela humanidade, existem alfabetos de uso mais pontual, que foram criados para uso próprio, recebidos por visualização ou meditação, ou mesmo desenvolvidos para obras de ficção.
Crowley recebeu em visões o Alfabeto das Adagas. Já Tolkien criou a escrita Élfica, assim como algumas de suas variações, e as Runas dos Anões. A escrita Aklo foi utilizada na série de jogos The Elder Scrolls, que conta também com um alfabeto dracônico próprio, e tem sido usada em conjunto com a egrégora de Lovecraft. Além disso, outros conjuntos rúnicos estão disponíveis como métodos oraculares ou representantes de sistemas mágicos.
Para a criação de um alfabeto, podem ser usadas as diretrizes gerais:
- o alfabeto deve escolher uma forma de dividir o Cosmos;
- dois símbolos não devem ter significados muito próximos, devendo neste caso ser melhor especificados, ou então mesclados em um só;
- é vantajoso que haja símbolos representando conceitos opostos (ou o mesmo símbolo pode ser interpretado de duas formas opostas);
- todas as situações e elementos possíveis devem estar incluídos ali;
- os símbolos devem ter uma bagagem comparável de conteúdo, não sendo vantajoso que alguns signifiquem muitos aspectos enquanto outros significam poucos.
Sendo assim, utilizando-se alfabetos já existentes ou criando-se os próprios, é possível representar o mundo ou as intenções desejadas de forma bem mais sucinta, resumindo conceitos complexos em formas geométricas e glifos. A intenção fica oculta por trás deles, e portanto mais inconsciente, o que aprimora os resultados de qualquer trabalho mágico.
Por: RoYaL
Referências: Rubens Saraceni — Introdução à Escrita Mágica Divina; Lady Mírian Black — Ogham: a Magia Celta Revelada.