Almas do Egito

As partes do Ser no Egito Antigo

Projeto Xaoz
5 min readOct 18, 2018

Do ponto de vista egípcio, o ser era composto de nove partes. Estando vivo, todas essas partes estão unidas formando a personalidade da pessoa. Após a morte, todas essas partes se separam, sendo necessário garantir que algumas partes específicas se reúnam no submundo para que o falecido possa gozar da eternidade em plena consciência e na presença dos deuses. O ponto crucial nessa jornada é a pesagem do coração, o Ib, a principal parte do ser, que é feito no Salão das Duas Verdades (Maat). O Ib é o centro da consciência e uma vez perdido, nenhuma parte se junta novamente e o falecido é condenado à segunda morte.

Khat — Corpo Físico

Imagem: Ramsés II.

Após a morte, era de suma importância à conservação do corpo, ao menos até o julgamento de Osíris, pois o corpo conectava a alma (Ba) ao mundo dos vivos. Enquanto essa ligação estivesse ativa, o falecido poderia se alimentar das oferendas dadas a ele nos ritos funerários. Os alimentos deixados nas tumbas não eram para consumo do corpo morto e sim para que seu duplo absorvesse a energia desses alimentos e se sustentasse no além até que sua jornada pelo Duat se completasse.

Ka — Força Divina/Força Vital

Imagem: Estátua Ka — Hor I — 13ª Din.

O Ka é considerado o duplo do ser vivo por ter a mesma forma. Os egípcios consideravam que todo ser vivo possuía um Ka, de plantas a animais complexos como o humano e inclusive os deuses, todos possuíam força vital divina. O Ka era migrado de existência em existência e foi criado, a depender do mito, por Khnun, Rá ou Ptah. As energias das oferendas eram para sustentar essa parte do ser.

Ba — “Alma”

Imagem: Ba — Papiro de Ani.

O Ba era o mensageiro entre o corpo e a força vital do ser. Era representado por um pássaro com cabeça humana, já que ele poderia se locomover rapidamente entre distâncias, incluindo entre mundos (terra e além). Cada Ba era conectado ao corpo de origem, levando mensagens e energia para o Ka. Os deuses também possuíam o Ba. Alguns animais eram considerados o Ba de alguns deuses, como alguns touros com deuses que desempenham papéis régios ou os gatos de Bast. Esses animais funcionavam como uma presença física da divindade na terra, já que, como o Ba estava em parte encarnado no animal, poderia se comunicar com a mente divina relacionada.

Ib — Coração

Imagem: Amuleto Ib — Império Novo.

O Ib é o coração espiritual do falecido (o físico é o hat), centro da consciência do ser. É considerado que todo o registro da vida da pessoa era guardado no coração, por isso ele era deixado dentro do corpo após a mumificação, para que o falecido o levasse com ele para o submundo. Este órgão espiritual que é pesado na balança em frente ao Bom Deus Osíris contra a pena que simboliza Maat. Se o coração fosse mais pesado que a Pena de Maat, o morto era considerado impuro e não poderia conviver entre os deuses, tendo seu coração entregue à Ammit, a Devoradora. Sem ele, Ba e Ka não se unem, impossibilitando assim a formação do Akh, o espírito. Sem essa união, a alma não se completa. Durante o processo de mumificação era colocado um amuleto ou escaravelho em cima do coração físico, para que o órgão espiritual ficasse mais leve na pesagem.

Khaibit — Sombra

Imagem: Khaibit — Tumba de NebenMaat.

Seu funcionamento não é descrito, porém era de suma importância, já que há no Livro dos Mortos: “Minha sombra não será enfraquecida, eu não serei enfraquecido” (Cap. 149) Considera-se que é a sombra do Ka e o acompanhava.

Akh (Akhu ou Khu) — Espírito

Imagem: Akh — Forma de Ibis — Templo de Edfu.

O Akh é a união entre Ba e Ka mediado pelo Ib após o julgamento do falecido. No Textos das Pirâmides há uma passagem dizendo que o Akh pertence ao paraíso e o Khat à terra. O Akh pode retornar à terra, caso seja necessário, por isso a forma de pássaro. Como o Akh, possuía a sabedoria do Ib, era mostrado como uma Íbis, animal do Deus Thoth.

Sekhem — Poder vital

Imagem: Sekhem — Cetro.

O Sekhem é a força da pessoa que habita o Akh, seu poder pessoal quando se está completo no além.

Sahu — Corpo do Espírito

Imagem: Sahu de Osíris como Órion — Templo de Dendera.

O Sahu é o corpo do Akh. Assim como na terra existe um corpo físico, no submundo também, e este é o Sahu. Dentro dele, o ser está completo em outro plano.

Ren — Nome Oculto

Imagem: Ren — Cartucho circundante.

O Ren é o nome que foi dado ao ser pelos deuses no momento de seu nascimento. É o nome secreto que somente eles sabem e pode confiar a pessoa, se for o caso. Este nome permite controlar a força do dono assim como mantê-lo pela eternidade, pois é o nome de poder divino da pessoa. Caso o nome seja apagado, a pessoa é esquecida pelas divindades e sua consciência varrida do tempo. Era uma das praticas de pena capital empregada, quando da morte de alguém, além da destruição do coração para evitar que a pessoa atingisse a vida eterna, o seu nome era apagado de todos os registros. Os próprios deuses possuíam o Ren. Há o mito do Nome Oculto de Rá em que Ísis, para conseguir executar qualquer magia que ela quisesse, precisava saber o nome oculto do Criador, pois através desse nome de poder ele controla o universo. Sim, ela conseguiu descobrir.

Por: Allan Koschdoski.

Referências: The Soul in Ancient Egypt — Joshua j Mark, 02/03/2017 — https://www.ancient.eu/amp/2-1023/; The Ancient Egyptian Concept of the Soul — Caroline Seawright — http://www.touregypt.net/featurestories/soul.htm; Textos das Pirâmides

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