As Runas Dracônicas

Uma sinfonia de criação e destruição

Projeto Xaoz
8 min readSep 1, 2018

As vertentes draconianas buscam entender os impulsos primordiais da parte reptiliana do cérebro humano para seu uso em rituais, a favor do magista. Neste sentido, algumas correntes têm como foco uma manifestação energeticamente masculina desta energia, Tifão, a Vontade Primordial, enquanto outras têm como foco uma manifestação energeticamente feminina, Tiamat, a Mãe Primordial de toda a Forma. Como pontos em comum, temos o caráter poderoso e primitivo das energias, que devem ser manuseadas com cuidado e após muita preparação, sem juízo moral de “bem” e “mal”, para que seu uso seja o mais vantajoso possível.

Tiamat

Nas mitologias suméria e babilônica, Tiamat é uma serpente aquática que representa as águas salgadas. Representa também as forças telúricas implacáveis, as formas brutas e ainda não compreendidas da Terra não explorada ou moldada pelo Homem.

Imagem: Tiamat no RPG Dungeons and Dragons.

Por associação etimológica, seria a Serpente do Mar (Ta-Yam-t), tendo função e características próximas às do Leviatã. Assim como as águas marinhas primordiais, teria dado origem a toda a vida, na forma de todos os elementos, além de monstros, dragões e serpentes.

Seu consorte, Apsu, é o deus das águas subterrâneas, e foi morto por Ea, líder dos deuses, o que causou a guerra dos mesmos contra Tiamat e seus filhos. O épico termina com a morte de Tiamat, cujo corpo é usado na confecção do mundo. Do sangue de Tiamat e da terra vermelha, são moldados os humanos, e o mundo passa por um período de paz e aliança entre Ea, seus filhos (os deuses menores Igigi), e os homens.

As Runas de Tiamat

As 27 Runas dracônicas foram criadas pelo estudioso de correntes dracônicas Isedon Goldwing. Algumas delas são correspondentes a classes de dragões que foram criadas por Tiamat, enquanto outras dizem respeito a etapas da criação e da destruição do Cosmos. Os nomes foram baseados na linguagem Druatch, compilada de memórias de adeptos do draconismo e aprimorada por meditação, e buscam representar as ideias por trás das runas, que possuem também um valor fonético (indicado entre parênteses).

Imagem: Runas dos Dragões, por Isedon Goldwing.

O Início de Tudo

O primeiro conjunto de runas diz respeito ao início do Cosmos, desde o Caos disforme até a criação do tempo e dos primeiros dragões por Tiamat, que surge como impulso primo.

  • Ratanen (k): sonho enevoado. Aqui, o proto-Cosmos é formado por energias caóticas em seu estado primordial, cru. O Caos. Sem Ordem. Ali, se encontra tudo o que existirá, ou tudo o que existiu até o fim dos tempos. O tempo, em si, ainda não existe, pois não há consciência. Esta substância dos sonhos pode ser convocada e usada para destruição, ou pode ser moldada por aqueles que entendem seu funcionamento.
  • Drakani (d): rainha dracônica. Esta é Tiamat, que surge do Caos primordial como primeiro impulso materializado. Conhece os segredos do Caos, e utiliza esta substância para moldar tudo o que há. Para a criação do Cosmos, molda filhos dracônicos e dá origem ao próprio tempo.
Imagem: dragão azul ancião, Dungeons and Dragons.
  • Sha’oren (s): sabedoria fluente. Todo o conhecimento que acompanha cada criação de Tiamat fica gravado no Akasha. Acessando-se este plano, pode-se obter sabedoria sobre qualquer tema e verificar os ecos de quaisquer eventos. É, porém, conhecimento puro, e precisa ser direcionado para que não causa loucura.
  • Ihanen (i): dança onírica. Representa o ato de vagar pelo Caos e recolher matéria onírica, usando-a para moldar o mundo. Após a criação do tempo e de seus filhos por meio dessa habilidade, Tiamat e eles performam novamente esta dança, e assim formam toda a miríade de elementos que há no Cosmos.

Os Clãs Draconianos

O segundo conjunto de runas diz respeito aos clãs de dragões criados por Tiamat que, cada um em sua especialidade, irão moldar o Cosmos da forma que o conhecemos. A partir de então, ficam à espreita, participando dos rumos da História por trás dos panos.

  • Ma’erhen (f): tempestade livre. Dragões espirituais e astrais que existem nos planos mais elevados, relacionados à transcendência e a contato com seres destes planos.
  • Ra (w): água. Dragões que vivem no fundo dos oceanos, com poderes relacionados a cura e ao entendimento das coisas por meio da curiosidade.
Imagem: dragão negro adulto, Dungeons and Dragons.
  • Liwaen (m): fogo frio. Dragões da escuridão, regendo a contemplação e a proteção; o recolhimento ao inconsciente para compreensão da própria essência.
  • Li (h): fogo. Clã de dragões do fogo vermelho, que regem os estados mentais de paixão, fúria e lealdade.
  • Li’aan (t): grande fogo. Dragões da luz, que podem iluminar assuntos ocultos, descobrir segredos e promover a justiça, com clareza de visão.
  • Mah (r): tempestade. Dragões do trovão, regendo a sagacidade e a interação social, além do carisma e da empatia.
  • Ninathan (n): filhos da terra. Clã de dragões das florestas associado ao crescimento, à fertilidade, à fauna e à flora, e à vida de forma geral.
  • Thaan (th): montanha. Clã de dragões brancos das montanhas que rege o espírito de equipe, a harmonia entre povos e o conhecimento forjado com base na união de uma sociedade.
  • Waethan (p): pedras congeladas. São dragões de cristal relacionados às ideias e aos pensamentos manifestados de forma organizada e magistral — materialização de objetivos.

Os Elementos do Cosmos

Os elementos criados por Tiamat e seus filhos são descritos neste conjunto de runas, que também mostra a progressão do Cosmos ao longo de sua vida.

Imagem: dragão branco ancião, Dungeons and Dragons.
  • Ta’kaya (o): ciclo das nuvens. Quando surgiu a consciência, surgiu o tempo, e com ele surgiram também os ciclos naturais, como o diuturno e as estações, a roda do ano. Assim, a natureza possui padrões de repetição que podem ser entendidos e aproveitados.
  • Shaan (sh): grande sabedoria. Aqui, um mago pode aprender a controlar o Caos, moldando-o à sua vontade. É a runa da magia, com fortes energias que requerem direcionamento.
  • Deigomah (ng): tempestade contaminada. Quando a magia é usada de forma excessiva para moldar partículas de Caos, há um desequilíbrio imenso, que pode ser prejudicial a todos. Assim, esta runa realiza uma purificação e um reinício do microcosmo local em termos mágicos.
  • Athihan (a): dança das lâminas. Quando os seres aprendem a realizar magia e a purificar seus ambientes para gerar as mudanças desejadas, surgem conflitos. Estes conflitos são necessários, porém, uma vez que é a tensão entre os pólos que forma a trajetória até o equilíbrio.
  • Kaegos (b): pureza e contaminação. Após os conflitos, há um equilíbrio entre o Caos e a Ordem. Neste momento, a existência pode florescer em um ambiente adequado de calma e conforto.
  • Thaenrathi (z): líder poderoso. O líder que sai vitorioso do conflito recebe a tarefa de prezar pela justiça e governar para que este equilíbrio perdure. O tempo de Bonança chega, sob sua égide sempre justa.
Imagem: dragão verde adulto, Dungeons and Dragons.
  • Athanen (e): forja dos sonhos. Após a matéria caótica ter sido controlada em um ambiente de Equilíbrio e Justiça, percebe-se que muito pouco é descoberto. O conforto torna o ambiente criativo estéril, e os seres se tornam acomodados e previsíveis.
  • Shoren (y): sabedoria flutuante. Além da acomodação, o ambiente de Equilíbrio e Justiça permite que as mentes de alguns voem longe, elucubrando questões filosóficas e refletindo sobre o Cosmos antes de colocar estas novas ideias em prática. São estes os eremitas e iluminados.
  • Nanen (l): sonho dos corações. Os iluminados encontram-se uns aos outros, formando associações, sociedades e Ordens, e juntos conseguem desenvolver seus conhecimentos de forma mais eficiente, em um caminho conjunto. Quando dois dragões se encontraram durante este momento, as pessoas regidas por eles podem também se encontrar durante uma ou mais de suas encarnações. A alma gêmea dracônica se mostra aqui.
  • Ionali (ei): fogo poderoso do coração. A paixão dos que ainda conhecem o uso do Caos, mas não formaram pares em Nanen, é balanceada e direcionada por meio da Sabedoria que obtiveram. Assim, alguns magos solitários encontram seus dragões internos e com isso percebem seu verdadeiro destino e papel no Cosmos. É um caminho de iluminação solitário.
  • Drakaneal (v): beleza dracônica. Todos os magos se unem em uníssono, tanto os que passaram por Nanen quanto os que viveram Ionali, e assim podem distribuir entre si as últimas partículas de Caos que conseguem angariar. Neste momento, também, começam a se preparar para a escatologia cósmica que começa a se desenhar no Éter.

O Fim de Tudo

O fim dos tempos se aproxima, e os dragões se reúnem para dar cabo desta derradeira tarefa. O tempo em si terá um final, mas em uma perspectiva dracônica este evento será apenas uma preparação, um retorno ao útero, para que outro Cosmos totalmente novo possa se formar.

Imagem: dragão das sombras, Dungeons and Dragons.
  • Zhukaya (j): ciclos de ação. Tudo o que é de direito é distribuído entre os seres, de forma justa, com forte atuação de Zhukaya. Quem plantou a compaixão irá colher, e quem semeou o ódio também irá recebê-lo. Mas não há nada que venha para o mal, pois tudo ensina uma lição. Algumas questões ainda são deixadas para as próximas encarnações, pois não puderam ser resolvidas completamente nesta etapa.
  • Abanen (g): sonho celeste. Há uma progressão dos seres para os planos sutis, sejam eles astrais ou espirituais. Uns ficam observando por mais um pouco no plano etérico. Alguns ainda irão se recolher em planos longínquos, pois não mais irão encarnar de forma física.
  • Satihan (u): dança dos furacões. O Caos começa a fluir de novo, surgindo de dentro da Ordem que o prendia. A Ordem vai sendo paulatinamente consumida por este Caos, se tornando novamente matéria onírica. Há um retorno à simplicidade do Caos Primordial, com matéria crua pronta a ser moldada pelo próximo impulso de organização que surgir, seja ele qual for. Ao contrário da finalização temporária e relativa de Abanen, aqui há uma finalização absoluta, uma vez que o próprio tempo deixará de existir.
Imagem: Runas dos Dragões, pirografadas por Gabriel Costa.

Usos das Runas

Esta progressão de elementos apresentada, bem como os Clãs e os agentes envolvidos, podem ser utilizados para meditação, para fins mágicos, para uso como talismãs em busca de suas qualidades, ou para divinação. Mais do que uma simples cartela de glifos, são uma progressão completa e que tem um final e um início cíclicos, e buscam representar de forma simbólica as próprias Leis do Cosmos.

Como um adendo, ressalta-se que os Dragões são seres primordiais, então qualquer mudança que realizem será profunda e se processará nas partes mais primitivas do Ser. Basta estudar os princípios, direcionar os intentos e se deixar levar pela transformação.

Por: RoYaL.

Referências: Encyclopedia of Gods, Demons and Symbols of Ancient Mesopotamia — Jeremy Black & Anthony Green; Dragon Runes — Isedon Goldwing.

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Este projeto visa compilar, analisar e desenvolver as bases do conhecimento de sistemas mágicos. Leia mais em: www.xaoz.com.br

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