Cabala Cósmica

Analogias entre as Sephirot e a Origem do Cosmos

Projeto Xaoz
8 min readMar 22, 2018

A Kabbalah judaica, a Qabalah hermética e a Cabala cristã surgiram na Europa, com enfoques e metodologias diferentes porém o mesmo objetivo final: estudar o surgimento do Cosmos e da vida por meio de um sistema numérico baseado em qualidades, quantidades, ordenamento e relações.

O principal símbolo do sistema cabalístico é a Árvore da Vida, contendo 10 Sephirot que são conectadas por 22 caminhos. Cada Sephira é representada por um número, e apresenta um dos aspectos do Universo. Além das 10 Sephirot, existe uma 11ª Sephira oculta, Daath, que fazia parte da Árvore da Vida no Paraíso, mas deixou de fazer após a queda de Adão e Eva.

Imagem: Árvore da Vida (após a queda), por Gabriel Costa.

Padrões e Associações

A partir da Árvore da Vida e seus caminhos, a Cabala Filosófica busca encontrar padrões e alcançar verdades escondidas por trás dos panos do Universo. Já a Cabala Prática tem como objetivo utilizar estes conhecimentos como um sistema mágico para obter os mais variados objetivos. Ao longo dos séculos, diversos estudiosos traçaram correlações e acrescentaram símbolos aos elementos da Árvore da Vida, com base em analogias e caráter dos elementos.

Estas analogias são tão consagradas que chegam a ser confundidas com o sistema cabalístico em si, e muitas pessoas começam a estudar a Cabala já associada às Arcanas Maiores do Tarot, por exemplo, em contraposição ao estudo separado inicial de cada sistema. De qualquer forma, as analogias se mostram mais do que convenientes, e o uso associado dos sistemas permite um aproveitamento muito maior do conhecimento ali contido do que o uso de cada um em separado.

Vasos de Luz

Uma das metáforas utilizadas para explicar como a luz divina permeia pelas Sephirot é a dos Vasos de Luz. A luz divina estaria, inicialmente, contida em um vaso de cerâmica, que não a conteve, tamanha a sua energia. Então, este vaso explodiu, e a luz emanou faíscas, se concentrando novamente em outro frasco, e assim sucessivamente. Os cacos dos vasos, por sua vez, teriam caído no Abismo e formado as Qliphot (fazendo parte da Árvore do Conhecimento).

Por sua vez, as teorias científicas mais aceitas atualmente sobre a origem do Cosmos — e do Planeta Terra — também se baseiam em explosões sucessivas de energia, alternadas com períodos de concentração e atração gravitacional. Passo a passo, a natureza vai alcançando formas mais estáveis, como o elemento Ferro, que possui a maior estabilidade nuclear na tabela periódica (e por isso é abundante na Terra e em outros planetas).

A Jornada do Cosmos

Segundo as teorias científicas mais aceitas atualmente, as etapas que foram seguidas pela natureza desde a formação do Universo até o surgimento do Planeta Terra foram as seguintes:

1. Big Bang: a teoria do Big Bang se baseia na ideia de que o Universo estava, em seus primeiros momentos, concentrado em um ponto ínfimo, que continha toda a massa existente, e possuía grandes quantidades de energia. Então, este ponto teria sofrido uma rápida expansão, e a matéria e a luz teriam sido espalhadas — e ainda estariam se movendo para as fronteiras do Espaço — formando o Universo.

Imagem: Big Bang, pixelparticle/iStock.

Na Cabala Judaica, existe um conceito similar, o TzimTzum, que seria um espaço que Deus teria formado dentro de si para permitir o surgimento de matéria. Esta descontinuidade estaria concentrada inicialmente em um ponto e depois poderia se expandir, e permitiria que surgisse um Universo Finito dentro da infinitude de Deus.

2. Quasares: após o Big Bang, um dos primeiros tipos de entes cósmicos formados seriam os Quasares — Objetos Quase Estelares. Os Quasares são grandes concentrações de matéria e energia orbitando em torno de buracos negros, formando um disco de acreção que emite energia e brilho intenso, além de ondas de rádio, entre outras frequências de radiação. Muitos Quasares estão posicionados no centro de galáxias, principalmente aquelas com alta taxa de nascimento de estrelas, ou galáxias que estão se mesclando.

3. Explosão de Quasares: devido ao consumo de matéria e energia pelos buracos negros supermassivos que há no interior dos Quasares, é possível que em algum momento haja seu colapso. Nesta ocasião, são formadas novas estrelas, mais estáveis porém ainda muito energéticas, além de nuvens gasosas, asteróides e agregados de matéria.

4. Estrelas: as estrelas são formadas por grandes quantidades de plasma que se mantêm unidas devido à sua própria gravidade. Podem possuir diferentes níveis energéticos e diferentes intensidades de emissão luminosa, e em seu interior diversos elementos químicos se recombinam e formam novos elementos.

Imagem: Estrelas na Nuvem Magelânica, European Space Agency.

5. Supernovas: quando uma estrela com alta energia começa a formar elementos estáveis, como o Ferro, as forças liberadas nas reações nucleares em seu interior começam a alcançar valores menores do que as forças gravitacionais que mantêm sua integridade. Neste momento, as estrelas colapsam em eventos conhecidos como Supernovas, formando estrelas menores e planetas, além de outros agregados de matéria.

6. O Sol: o Sol, estrela central do Sistema Solar, foi formado há cerca de 4,6 bilhões de anos a partir de uma Supernova, junto a outros corpos celestes. É uma estrela anã que emite brilho na cor branca (embora este brilho seja visto como amarelo a avermelhado devido à atmosfera terrestre).

7. Planetas: junto à formação do Sol, foram gerados os planetas e outros corpos que orbitam em torno dele e formam o Sistema Solar. Os Planetas já não possuem energia suficiente para manter uma reação nuclear ativa, principalmente devido a possuírem elementos mais estáveis, portanto se consolidam como um agregado de matéria unido por forças gravitacionais. As substâncias que formam cada planeta são diferentes, o que confere a cada um características específicas, como cor, emissão de radiações e absorção de frequências.

8. Big Splash: há aproximadamente 4,5 bilhões de anos, um dos planetas que orbitava em torno do Sol teria sido atingido por um asteroide com o tamanho aproximado de Marte. Durante a colisão, teria havido intercâmbio entre os elementos presentes tanto no planeta quanto no asteroide, e parte da matéria teria ainda sido expulsa para o Espaço. Assim, formaram-se (segundo esta teoria), o Planeta Terra e seu satélite natural, a Lua.

Imagem: Big Splash, Extreme Tech.

9. A Lua: provavelmente formada no Big Splash, a Lua serviu desde então como um vetor de mudança no Planeta Terra que também havia se formado neste mesmo evento. Seu campo gravitacional age atraindo massas de fluidos, e o movimento das marés pode ter sido um dos responsáveis por formar poças primordiais quentes e isoladas, onde os elementos químicos se recombinariam sem que ficassem dispersos pelo Oceano, dando origem à Vida.

10. A Terra: após o Big Splash, a maior massa de matéria, incandescente, foi tomando forma e os elementos foram se organizando por ordem de densidade até formar um núcleo, um manto e uma crosta, além de massa aquática e atmosfera. A água fornece um meio fluido com alta mobilidade para que os elementos se recombinem, e as rochas possuem minerais que podem catalisar reações e fazer com que estas ocorram mais rápido. Estes elementos, em conjunto com as radiações ultravioletas que a superfície terrestre recebia antes da formação da camada de Ozônio, os altos teores de amônia e gás carbônico na atmosfera, além de outros fatores presentes na Terra primitiva, teriam permitido o surgimento da Vida.

A teoria de Oparin quanto ao surgimento da Vida por meio de reações químicas na Terra primitiva é a que possui maior confirmação científica atualmente. Em 1952, o Experimento de Miller-Urey confirmou essa possibilidade, quando mostrou ser possível sintetizarem-se aminoácidos a partir de substâncias simples e condições experimentais severas, que mimetizavam os anos iniciais do Planeta.

11. Buracos Negros: os conhecimentos sobre Buracos Negros são ainda escassos, e as discussões ocorrem em sua maioria no campo teórico, porém sua existência possui muitos indícios experimentais. Os Buracos Negros consistem em agregados de matéria com tamanha gravidade que conseguem absorver até mesmo fótons de luz, e portanto não podem ser visualizados diretamente, sendo verificados por meio de seu efeito nas vizinhanças. De qualquer forma, são os principais candidatos a corpos centrais em muitas das galáxias conhecidas, indicando que seriam os responsáveis por gerar a organização atual do Cosmos em que vivemos.

Além dos buracos negros, outros corpos celestes não são visíveis, e sua presença é percebida principalmente pelo comportamento de sua vizinhança. Sírius, por exemplo, é um sistema binário composto por duas estrelas, das quais apenas uma continua visível (Sírius A), uma vez que a outra (Sírius B) passou a emitir muito menos luz ao longo dos anos. Sírius B, muito mais massiva que Sírus A, seria o Sol Negro, que teve grande influência no movimento do Sistema Solar até ser consumido pelas próprias reações nucleares e perder seu brilho.

Imagem: Cabala Cósmica, por Gabriel Costa.

Sendo assim, percebe-se que há analogia entre a sequência de repulsões (pilar da severidade) e atrações (pilar da misericórdia) relacionadas ao surgimento da Terra, e a evolução das energias na Cabala, que é explicada em detalhes no Zohar. No pilar do equilíbrio, encontram-se os corpos que se estabilizaram nestes processos, e que ainda exercem influência sobre os Humanos.

Calendários

A Lua orbita em torno da Terra, que por sua vez orbita em torno do Sol, que está em um dos braços da Via Láctea, que pertence ao superaglomerado de galáxias Laniakea. Como as órbitas possuem uma estrutura bem organizada, podem ser utilizadas para marcar o tempo, e de fato isso foi feito pelos Humanos ao longo dos séculos.

Os principais calendários conhecidos são o Lunar — baseado na órbita da Lua em torno da Terra, que dura cerca de 29 dias — e o Solar — baseado na órbita da Terra em torno do Sol, que dura cerca de 365 dias. Porém, alguns povos desenvolveram ou herdaram outros tipos de calendário, como é o caso do Calendário Sótico, conhecido pelos Dogon (povo da África Subsaariana) e pelos Egípcios. Este calendário se baseia no retorno de Sírius (em grego, Sothis) à mesma posição relativa ao Sol, o que ocorre a cada 1.461 anos, aproximadamente.

Assim na Terra como no Céu

Cabe ressaltar que este ensaio não tem como objetivo inferir sobre os conhecimentos cosmológicos que a Humanidade já possuía antes da Ciência registrá-los formalmente — após terem sido perdidos na Idade das Trevas. Porém, se tudo o que está em cima é como o que está embaixo, percebe-se que os caminhos observados pelos cabalistas na transcendência individual possuem forte correspondência com os caminhos tomados pela natureza em sua jornada de evolução.

Imagem: composição de bandas de frequência na Nebulosa do Caranguejo — NASA et al., 2017.

Ass.: RoYaL.

Referências: Qabalah, Qliphoth and Goetic Magic — Thomas Karlsson; Uma breve história do tempo — Stephen Hawking; Kenneth Grant — O Renascer da Magia.

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