Deuses Egípcios (parte 3)

Outros Deuses Importantes

Projeto Xaoz
12 min readSep 20, 2018

Maat

Imagem: Maat.

Deusa da Ordem Cósmica, justiça e verdade. Maat é a Ordem dentro do Caos. É a primeira a ser gerada para que a criação se dê. Sem ela, a ordem do universo é abalada e tudo retorna ao Nun. Por isso, havia uma grande preocupação em satisfazê-la através dos atos, tanto do faraó, como regente do estado, quanto do indivíduo, que ao morrer e chegar ao Salão das Duas Maat para ser julgado por Osíris, deveria recitar a Confissão Negativa composta por quarenta e duas afirmações e em seguida, seu coração era pesado por Anúbis, usando a Pena(avestruz) de Maat como contrapeso. Caso o coração fosse mais pesado que a verdade e justiça, era condenado à segunda morte. Seu coração era jogado à Ammit e seu Ba e Ka nunca se reuniriam (Akhu) no além, tornando-se assim, um andarilho sem consciência do submundo, alimentando-se de imundícies, com sede e sem ver a luz de Rá. Ela também é constantemente atacada por Apep, a Serpente Caótica, que ao tentar todas as noites destruir Rá dentro de sua Barca Noturna, coloca em cheque a existência da Ordem, pois uma vez que Rá for destruído, Maat se perde. Apep representa a força contrária que tenta destruir a Ordem para que se retorne ao Caos original, o Nun. Seu opositor direto é Isfet, a personificação da Injustiça e Desordem. Apesar da grande importância, não possuía nenhum centro de culto próprio, talvez por ser uma divindade extremamente abstrata, quase conceitual. Possuía no templo de Montu em Karnak, uma parte destinada à sua adoração.

Ammit

Imagem: Ammit.

A Devoradora. Alguns a consideram como uma deusa, outros como um monstro. Ela habita o Salão das Duas Maat, abaixo da balança e devora o coração daqueles que foram considerados culpados após a pesagem do coração por Anúbis. Ela é uma quimera, cabeça de crocodilo, dorso de leão ou leopardo e traseira de hipopótamo. Os três animais mais temidos do Egito, representados em uma só divindade.

Anúbis

Imagem: Anúbis.

O condutor da alma dos mortos. Originalmente a divindade controladora do submundo e tudo que está ou passa por ele, porém, com a ascensão da Enéade, seu culto foi assumido por Osíris, ficando ele responsável por guiar as almas. Sua origem é incerta, devido à sua antiguidade. Há teorias de que ele é uma antiga divindade pré-dinástica chamada de Khenti-Amentiu (Senhor do Oeste, esse também é um título de Osíris), ou que ele assumiu o culto desse deus mais antigo ainda. Com o aumento do poder religioso de Heliópolis, ele foi inserido no conjunto de deuses como filho de Osíris, porém a maternidade depende do mito, sendo Néftis, Isis, Sekhmet, ou até mesmo filho de Rá ou Seth, com a mãe sendo Hesat (antiga deusa vaca celestial que teve seu culto assumido por Hathor e Isis) ou Bast. É mostrado como um chacal egípcio, que é um lobo negro, pois foi observado que este animal rondava as antigas mastabas (túmulos) ou desenterrava os mortos.

Bast

Imagem: Bast ou Ra matando a cobra Apep.

Deusa e Senhora de Bubastis, possui vestígios de seu culto a partir da IV dinastia. Deusa defensora do lar, das mães, do parto e feroz defensora, além de deusa do êxtase e prazer, música e dança. Inimiga mordaz das serpentes, principalmente Apep. Ela é a face benéfica do sol enquanto Sekhmet é a face destrutiva. Tardiamente, foi cultuada como uma deusa guerreira por conta de seus atributos de defesa. Alguns a consideram como personificação da alma de Ísis, Ba-alma e AST-Aset ou Isis, Ba-ast. Sua cidade, Bubastis, possuía a própria tríade, constituída por ela como criadora, Atum como criador e uma forma local de Hórus (Heru-Hekenu) como seu filho.

Sua forma original é a do gato selvagem do Saara, porém possuía uma forma de leoa, a qual é confundida com Sekhmet, em Letópolis, onde assumiu o culto de Tefnut e se tornou par de uma forma leonina local de Shu. Sob essa forma, se torna uma deusa da guerra com a pele verde. Somente no final do período grego que começou a ser identificada com o gato doméstico. Os gatos, sejam selvagens ou domésticos, são seus animais sagrados e acredita-se que sua energia habita esses animais, sendo assim, quando morriam, eram embalsamados e enterrados com rituais fúnebres adequados. Seu culto se espalhou pela Grécia e Itália, onde foram encontradas capelas em sua honra.

Filhos de Hórus (Heru-Wer)

Imagem: os 4 filhos de Hórus juntos com Osíris.

Dependendo do texto, são ditos que são filhos de Hórus ou crianças de Hórus, representando suas almas. São divindades que participam principalmente dos ritos funerários, ajudando (Texto das Pirâmides) o recém falecido a se alimentar, a avançar no Duat e ascender para a terra dos deuses após o julgamento por Osíris. No processo de mumificação, eram retirados os órgãos para que o corpo fosse preservado, com exceção do cérebro, que era descartado e do coração que era devolvido ao corpo por ser o ponto principal do Ser de acordo com a metafísica egípcia. O fígado, pulmões, estômago e intestinos eram embalsamados, assim como o corpo, e colocados no que eram chamados de Vasos Canópicos. Cada vaso era responsabilidade de uma dessas divindades. Para cuidar dessas divindades, eram também associadas deusas tutelares que eram suas superiores: Isis, Néftis, Neith e Selket. A relação com os órgãos são especulativas e diversas, não tendo algum texto que explique o motivo. Eles são associados aos quatro pontos cardeais, sendo também responsáveis pela sustentação do mundo como os pilares de Shu.

Tabela: correspondências entre os filhos de Hórus e seus atributos.

Hapi

Imagem: Hapi.

O deus Hapi (não confundir com o filho de Hórus, Hapy), ao contrário do que se diz, não representa o Nilo em si, ele é a personificação da Cheia. Ele é o que causa a elevação das águas do rio sagrado, que após a vazante, deixava o limo negro altamente fértil em suas margens (Daí vem Khemet, As Terras Negras, nome do Egito), sendo assim, responsável direto pelo pré-requisito fundamental de toda a civilização: A Agricultura. Por isso, era dito que, quando ele chegava, trazia a felicidade entre o povo e os deuses, mantendo assim, a Ordem.

Seshat

Imagem: Seshat.

Antiga deusa já descrita na segunda dinastia, Senhora dos Livros e da Casa dos Rolos (Biblioteca), era aquela que fazia as anotações mais importantes para os deuses e para o reino, como a medição do tempo através dos anos de reinado de um faraó, as fórmulas mágicas de Thoth, o número de cativos após uma campanha, as medições de um templo, motivo pelo qual também era a Senhora dos Construtores e também todas as ações de uma pessoa durante a vida. Devido às suas caraterísticas ligadas ao conhecimento, era tida como consorte ou irmã de Thoth. Há um mito que diz que foi ela quem inventou a escrita, ficando o trabalho de transmitir aos deuses e aos humanos, para Thoth. É mostrada como uma mulher com o vestido de leopardo e um símbolo com sete folhas ou sete raios. Esse símbolo não é unanimidade. Há escritores que dizem ser uma palmeira, pois ela foi mostrada entregando folhas de palmeira ao faraó, um símbolo de longevidade do reinado, outros dizem ser uma folha de cânhamo, que tinha diversos usos na construção e aqueles que dizem ser um papiro (planta), por ser a principal fonte de fibra para se fabricar os rolos de papel que era utilizado na escrita.

Thoth (Djehuty)

Imagem: Thoth.

Seu nome significa O de Djehut, Nomo XV do Baixo Egito. Deus lunar da Sabedoria, aprendizado e magia. Representa a sabedoria do criador. Ele quem ordenou o mundo de acordo com Maat, com a contagem de tempo, organização e regras, criando assim a civilização. Os primeiros calendários, lunares, eram sua invenção, tendo o título de Senhor do Tempo e Contador de Eras, posteriormente adicionado o calendário Sótico com 365 dias. É o escriba de Osíris no Salão das Duas Maat. Ele anotava o julgamento e seu desenvolver, de acordo com as regras estabelecidas, para que Osíris pudesse julgar com sabedoria. No mito da luta de Seth e Hórus, ele quem julgou o caso, a pedido de Rá, e aconselhou o Criador a se decidir sobre Hórus como rei legitimo do Egito, assumindo o trono de seu pai Osíris. Em Hermópolis Magna, foi cultuado como parte integrante da Ogdóade. Em mitos antigos, ele quem criou a Ogdóade e o mundo através do poder da palavra, papel assumido por Ptah posteriormente em algumas cidades. Junto com sua consorte ou irmã Seshat, era o detentor do conhecimento e mantinha a biblioteca dos deuses. Sua palavra possui tanto poder que é dito que ele é a Voz de Rá. Possui uma área no submundo chamada Terra das Cavernas, onde com Maat, registra e executa o destino do falecido de acordo com seus atos. É citado que ele possui um livro onde se registra todo o conhecimento do universo, o Livro de Thoth, porém é um livro que somente ele sabe onde está, neste livro está também todo o seu conhecimento mágico e palavras de poder com que auxilia os deuses e ordena o mundo. Era muito persuasivo também. Num mito, que provavelmente advém de um período de seca no Egito, a deusa Tefnut (umidade), foi embora para as terras da Nubia, levando consigo toda a umidade do reino. Rá mandou que Thoth e Shu fossem buscar a deusa para que a normalidade fosse restaurada, inicialmente se recusou, porém Thoth conseguiu convencê-la com a promessa de grandes celebrações em seu nome.

Sua principal forma é a de um homem com cabeça de íbis, segurando a Ankh(vida) e o cetro (poder), e de um babuíno. O primeiro animal, tendo o bico em forma de lua crescente e de uma pena para escrita e o segundo por ser um animal noturno, possui o habito de se pronunciar de forma bem alardeada no nascer do sol antes de ir dormir.

Hathor

Imagem: Hathor.

Deusa pré-dinástica do céu, amor, fertilidade, alegria e beleza, cuja origem se perde. Senhora do Céu, Dama das Estrelas, A Dourada, seu nome significa “A Casa de Hórus”. Como deusa celeste, seus domínios é o local onde Hórus habita, dando uma ideia provável de sua origem na região de Behedet (Edfu), um dos importantes centros de culto à Hórus. Presidia os nomos VI, X e XIV do Alto Egito. No início do período dinástico, assumiu o culto de duas deusas vaca mais antigas ainda, Bat e Mehet-Urt herdando exatamente as mesmas características delas. Esta deusa Bat pode ser vista na Paleta de Narmer, unificador do Egito e iniciador do Período Dinástico. Era também a Deusa do Céu Noturno, sendo mostrada diversas vezes como uma Vaca Celeste com o corpo estrelado, face esta que foi absorvida por Nut com a ascensão da Enéade Heliopolitana. Numa das versões do mito da Destruição da Humanidade, é Hathor quem Rá escolhe para personificar sua ira na forma de Sekhmet. Em mitos antigos, ela quem elevou o sol ao céu, utilizando seus chifres, por isso é representada com o Disco Solar de Rá entre eles. Hathor possuía sete faces ou manifestações, conhecida como As Sete Hathores, deusas em forma de vaca: Senhora do Universo ou Da Casa do Júbilo, duas do Oeste: Aquela do Céu Tempestuoso e Senhora da Terra do Silencio, duas do Leste: Aquela de Kemmis e A Ruiva, duas das terras sagradas: Vermelha Brilhante e A Que Floresce com a Habilidade. No Período Ptolomaico, essas Hathores foram associadas às Plêiades.

Em Tebas era associada com os mortos. Sendo sua nutridora, possuía os títulos de Senhora do Oeste e Deusa da Montanha Ocidental e recebia os mortos na entrada do Submundo. Em Kom Ombo era esposa de Sobek, o Deus Crocodilo. Em Mênfis, era deusa do feminino. Seu culto era conhecido também entre os semitas, que a associou à Baalat e em Biblos, como Astarté.

Imagem: Hathor como vaca estrelada.

Possui a forma de uma vaca ou vaca estrelada, mulher com cabeça de vaca ou uma vaca com o disco solar de Rá entre os chifres ou mais raramente com cabeça de cobra. A vaca é o símbolo máximo da maternidade. É a que nutre homens, deuses e mortos. Esta simbologia, mais tarde, foi assumida por Ísis, que passou a ser mostrada com a mesma iconografia. Possuía também uma arvore sagrada, a Figueira (Sicômoro), pois no Egito era uma das árvores que mais geravam frutos, além de ter uma boa madeira para a construção e fabricação de sarcófagos e seus frutos serem utilizados também para a tinturaria.

Tatenen

Imagem: Tatenen.

Seu nome significa Terra que Se Eleva, sendo o deus antigo da terra primordial, aquela que se eleva do Nun. Em Mênfis foi associado à Ptah (Ptah-tenen). Em Heliópolis, teve seu culto totalmente absorvido por Geb, se transformando em um aspecto do deus da Enéade. Mostrado como um deus com chifre de carneiro teve seu culto absorvido também por Khnun. Esses dois últimos deuses, do panteão heliopolitano e elefantino respectivamente, tinham Tatenen como um aspecto. Raramente é mostrado como um homem com cabeça de serpente ou com relação à vegetação com pele verde e aspecto mumiforme. Na cidade de Heliópolis, como Geb é o deus da terra (o chão em que pisamos), Tatenen ficou com o aspecto de Geb representando o Submundo, já que na metafísica egípcia, este ficava abaixo do chão. Sendo assim, Geb-Tatenen é a representação do Submundo como espaço físico.

Serket

Imagem: Serket.

Deusa protetora dos mortos, magia e escorpiões, além de deusa tutelar de Kebhsenuf. Sob um aspecto agressivo, protege o sol com seus encantos e afasta animais perigosos como serpentes e escorpiões, esse último, seu animal sagrado. O veneno do escorpião, além de causar uma dor intensa, causa falta de ar, podendo ser fatal, motivo pelo qual ela foi associada à respiração, tanto dos vivos quanto dos mortos. Como uma deusa que pode envenenar, assim como Sekhmet que leva pragas, também está associada à cura, principalmente de picadas de animais peçonhentos. Seus sacerdotes eram grandes magos e bons médicos, especialistas em curar picadas. Era representada como um escorpião com cabeça humana ou uma mulher com escorpião acima da cabeça.

Nekhbet e Wadjet (Uto ou Uraeus), as Duas Damas

Imagem: Nekhbet e Wadjet.

Nekhbet significa Aquela de Nekheb, uma cidade do Alto Egito, atualmente El-Kab. Uma deusa abutre local, porém seu culto lunar se tornou tão importante após a unificação do Egito, que se tornou a Deusa do Alto Egito, sendo protetora do território sul. Era chamada de A Senhora da Grande Casa, ou o templo estatal do Alto Egito. Wadjet, também conhecida como Uto ou Uraeus, é uma das mais antigas deusas, tendo seu culto já estabelecido no período pré-dinástico. Deusa local de Buto (Per-Wadjet — Cidade de Wadjet), seu nome significa A Verde, em alusão ao papiro, representava a força do crescimento e fertilidade do solo. Em um mito, no qual Isis fugia de Seth com Hórus ainda bebê, escondendo-se numa plantação de papiros, conta que esta deusa amamentou o filho de Isis. Como os campos de papiros era seu domínio, foi associada à serpente, animal que era abundante neste local. Após a unificação, assim como Nekhbet, tornou-se deusa protetora de território, nesse caso o Baixo Egito.

Imagem: Nekhbet e Wadjet na coroa de Tutankamun.

Essas deusas juntas, chamadas de As Duas Damas, protegiam todo o território do império egípcio assim como protetoras pessoais do Faraó, sendo representadas na coroa do rei, na altura da fronte.

Por Allan Koschdoski, a convite do Projeto Xaoz.

Para ler a Parte 1, clique aqui.

Para ler a Parte 2, clique aqui.

Referências: BUDGE, EA Wallis. O livro egípcio dos mortos. Pensamento, 1990; BUDGE, Sir EA Wallis. The Gods of the egyptians: or studies in egiptian mytholog. Dover, 1969; BUDGE, E. A. Wallis. Egyptian Magic. 1971; JENSEN, William B.; CALEY, Earle Radcliffe. The Leyden and Stockholm Papyri: Greco-Egyptian Chemical Documents from the Early 4th Century AD. 2008; HOLMBERG, Maj Sandman. The God Ptah. CWK Gleerup, 1946; PINCH, Geraldine. Magic in Ancient Egypt: Revised Edition. sat, v. 3, p. 043900, 2018; PINCH, Geraldine. Handbook of Egyptian Mythology (Handbooks of World Mythology). ABC-CLIO Interactive, 2002; Mark, J. J. Festivals in Ancient Egypt. Ancient History Encyclopedia., 2017; HILL, Jenny. Ancient Egypt Online; DOLLINGER, André. An introduction to the history and culture of Pharaonic Egypt; LÓPEZ, Francisco. La Tierra de los Faraones; MARCHANT, Jo. Carbon dating shows ancient Egypt’s rapid expansion. 2013.

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Este projeto visa compilar, analisar e desenvolver as bases do conhecimento de sistemas mágicos. Leia mais em: www.xaoz.com.br

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