Dossiê Portal
Um resumo sobre o Projeto Gateway
“Caro Fred,
A Sessão Presencial Avançada do Portal está marcada para seu grupo de formados de 20 a 28 de setembro de 1980. Será uma ocasião não apenas para renovar amizades, mas para que eles sejam os primeiros a experimentar a nova série Mente Mestre. Haverá ainda exercícios especiais de exploração exclusivos para graduados do Portal, disponíveis apenas no Instituto. (…) Por favor, mande notícias em breve.
Com amor, Alice Durrett — Coordenadora do Portal”.
Este é um resumo da carta enviada em 11 de agosto de 1980 do Instituto Monroe de Ciências Aplicadas para a Agência Central de Inteligência Americana (CIA). Nela, é confirmado um treinamento avançado para oficiais que já tivessem se graduado no curso Gateway (Portal, em tradução livre).
O documento, junto a outros que se tornaram de domínio público entre 2000 e 2003 e estão disponíveis no site da CIE, faz parte dos registros de um intrincado projeto tocado pela CIA em associação com o instituto Monroe, o Projeto Portal, que tinha como objetivo principal o desenvolvimento e a exploração da consciência humana.
O Instituto Monroe
O Instituto Monroe é uma organização de estudo e pesquisa sem fins lucrativos em Virginia, nos EUA, que tem como objetivo explorar a consciência humana e a experiência de estados expandidos de consciência. Neste sentido, é citado o efeito de se criar uma vida repleta de liberdade pessoal, significado, criatividade e felicidade. No site do Instituto Monroe, a Gateway Experience (Experiência Portal) é vendida na forma de pacotes de “Ferramentas Mentais” com faixas de áudio que serviriam como guias na exploração da consciência.
Porém, nos documentos da CIA, vemos que o Instituto foi criado com base em uma premissa um tanto mais mística. Em 1958, Robert Monroe teria começado a ter experiências involuntárias de projeção astral, quando sua consciência deixava o corpo na forma de um “segundo corpo” e vagava por lugares longínquos. Robert, então, escreveu um diário sobre suas experiências, que publicou na forma do livro Journeys Out of the Body em 1971.
Suas experiências começaram a motivar uma pesquisa sobre a relação entre estados mentais e ondas sonoras não verbais ou instrumentais. Desenvolveu um sistema de batidas binaurais para influenciar e controlar as emissões de ondas cerebrais em cada hemisfério, possibilitando também sincronizar os dois hemisférios cerebrais. Com base nas informações acumuladas até então, fundou o Instituto Monroe, e reuniu cada vez mais cientistas em torno dessa nova área de pesquisa.
Estados Alterados de Consciência
Segundo o Instituto, os estados alterados de consciência podem ser encontrados em diversas culturas, em épocas diferentes, sob diferentes nomes. Desde o Samadhi e o Satori, passando pela Jornada de Visão até a Nuvem do Desconhecido e a Gnose Mágica, estas seriam expressões similares de experiências além da consciência desperta padrão. Usando o método científico e equipamentos de ponta, seria possível estudar, catalogar e reproduzir estes estados com base em padrões específicos de ondas cerebrais, e ondas sonoras que estimulassem estes padrões.
Por outro lado, a percepção humana quanto a estes estados, assim como o reconhecimento de se estar em um ou outro estado, dependeriam muito de fatores subjetivos e dos critérios usados por cada indivíduo. Algumas pessoas teriam sido até mesmo treinadas para se submeterem a estes estados, reconhecer cada um deles e relatar as experiências, que seriam então analisadas de forma qualitativa em busca de padrões.
A prática em si consiste em um grupo de cerca de 20 pessoas que se deixa em uma sala, se cobre com cobertores, e fica imóvel enquanto ouve os áudios específicos e as batidas binaurais por meio de fones de ouvido. As batidas são mascaradas por trás de sons de ondas e de vento ou mesmo instruções verbais para guiar a viagem, e durante 40 minutos cada pessoa tem sua prática individual, após os quais elas podem se sentar e compartilhar as experiências. A definição de quais ondas usar, por sua vez, não seria muito exata, e os primeiros anos do programa teriam o objetivo de descobrir quais ondas levavam a cada estado. Independente disso, o documento que explica o programa já traz algumas indicações de efeitos físicos esperados.
Gateway Project
O programa e o projeto levam este nome porque propiciam um Portal para que qualquer pessoa atravesse de sua vivência consciente cotidiana para tais estados alterados, onde haveria efeitos altamente perturbadores e ao mesmo tempo muito satisfatórios. Por causa dos efeitos imprevisíveis e únicos, alguns participantes chegariam ao que se chama de “barreira do medo”, o que ocorre principalmente em casos onde o indivíduo tenta avançar muito rápido, e de forma não controlada, pelas etapas do programa. Por isto também, é necessária coragem, e o sentimento de ultrapassar cada etapa daria a cada pessoa um senso de valor e de autoconfiança cada vez maior.
Níveis de Foco
Os níveis de foco (Focus) são denominadas por números, e o que corresponde ao relaxamento profundo leva o nome de Focus 10. Neste estado, o indivíduo tem uma experiência próxima à do sonho lúcido, quando “o corpo dorme, e a mente está desperta”. O estado é alcançado ouvindo os áudios, contando até 10, ou mesmo com autosugestão para chegar diretamente a ele, dependendo do nível de experiência. Os pensamentos ocorrem mais com imagens do que com palavras neste estado, e alcança-se o mundo simbólico com maior facilidade. É mencionado que as energias manipuladas nesta etapa já são capazes de afetar o mundo físico, principalmente o conhecimento e controle dos próprios sentimentos e emoções, a promoção da cura do organismo, e mesmo a sincronização entre indivíduos distantes, ou telepatia.
Em Focus 12, o indivíduo se encontra em um estado de alta energia, e começa a se sentir recarregado e vibrando. A passagem para este estágio é gradual, até que o praticante se acostume a ele. Existem pelo menos três áreas práticas possíveis neste estágio:
- Auto-Programação: projetam-se mudanças que os participantes queiram ter em seus futuros. Verificou-se que a maioria dos participantes conseguia, no futuro, alcançar as condições necessárias para que os objetivos definidos se concretizassem.
- Contato com o Eu Superior: neste estado, ouve-se uma voz interna que traz conhecimentos profundos. Esta fonte de conhecimento traria respostas de uma perspectiva mais elevada.
- Controle de Experiências Extracorpóreas: os participantes se conectam a um segundo corpo, aparentemente composto de energia não física, e deixam o corpo físico, sendo capazes de controlar este segundo corpo.
Já em Focus 15, se acessam planos energéticos específicos onde o tempo possui outras regras. O espaço-tempo se torna um continuum, e podem ser acessados momentos passados e futuros mesclados aos presentes. O tempo poderia também ser manipulado.
O Instituto reporta que 1.932 indivíduos submetidos a 3.000 testes tiveram efeitos similares nos níveis Focus 10, 12 e 15, mesmo sem saberem uns das experiências dos outros. Reporta também que muitos praticantes adormecem quando chegam aos estados mais elevados, ou não conseguem passar dos estágios iniciais por perda de foco. Muitos deixam as drogas, o álcool ou o fumo, ou mudam de trabalho e de moradia após a experiência. No caso de haver sintomas adversos, recomenda-se um intervalo de repouso dos exercícios, além de práticas de Reiki, Yoga e Tai-Chi.
Instruções
No Livro de Estudos, são descritos os exercícios recomendados para se chegar a cada um dos estados Focus. Estes exercícios se baseiam em uma contagem progressiva, que deve ser feita de forma regressiva caso se deseje voltar a um estado anterior ou terminar a prática.
- Focus 1 a 10: relaxamento deitado ou sentado, contando de 1 até 10 e respirando de forma cada vez mais lenta em cada contagem. Antes de contar cada número, deve-se chegar ao máximo de relaxamento possível naquele nível.
- Focus 10: existem práticas específicas neste estado, como visualizar uma barra de energia que deve ser carregada e piscar em cores brilhantes. Esta barra pode ser esticada até qualquer lugar para se obter informações e visões daquele lugar, ou mesmo enviar mensagens. Outra prática é a de criar um mapa corporal como uma silhueta de si próprio em cor azul para o sistema nervoso, vermelho para o sistema circulatório, laranja para estruturas musculares e ósseas, amarelo para órgãos e glândulas, branco para todos os sistemas juntos. O mapa corporal deve ser recarregado com energia roxa, principalmente nas partes onde a luz está fraca.
- Focus 12: quando se estiver estável no nível 10, e em um nível cada vez maior de relaxamento, pode-se contar o número 11, e posteriormente 12. Questões que foram formuladas no Focus 1 podem ser respondidas facilmente no Focus 12. Pode também ser conjurado um escudo ou “balão energético” ao redor da pessoa neste estado. Este balão pode levar a consciência para níveis elevados. Neste estado também é treinada a projeção astral controlada, por meio do balão ou do mapa corporal criado em Focus 10.
São apresentadas ainda no Livro de Estudos ferramentas para se usar na vida cotidiana frente a estados mentais específicos, como dor física, sofrimento emocional ou perda de memória. É proposta uma estrutura de diário ou grimório para que os resultados sejam anotados.
Análise da CIA
Após se submeter ao programa, a CIA elaborou um relatório contendo explicações e conclusões sobre os exercícios e os resultados obtidos por seus graduados. Neste relatório, são mencionadas hipóteses científicas que buscam embasar o método e os mecanismos de alcance dos estados elevados de consciência. O relatório inicia-se de forma curiosa, quando o encarregado de fazer tal análise reporta a seu Comandante que precisou recorrer a várias fontes para descrever o funcionamento do Projeto Portal, entre elas os modelos biomédicos desenvolvidos por Itzhak Bentov, trabalhos de Mecânica Quântica e Física Teórica do espaço-tempo. O autor afirma que deseja se distanciar dos estigmas existentes quanto a assuntos de Ocultismo, e por isto utiliza os termos mais científicos possíveis. Afirma também que alguns leitores podem considerar o relatório fantasioso e — erroneamente — que o que é descrito não se encaixa em suas concepções de mundo.
- Hipnose: uma das explicações para a hipnose seria a desconexão entre os hemisférios do cérebro, quando então se teria acesso à porção emocional e aos centros de prazer de forma direta. A parte que filtra estímulos do mundo externo seria enfraquecida, o que permitiria esse acesso mais direto, assim como a percepção total do que está em volta. Sendo assim, a auto-hipnose seria um dos mecanismos envolvidos ao se migrar entre os níveis Focus 1 e Focus 10.
- Meditação Transcedental: a meditação por Kundalini-Psicose ou Transcendência, estudada por Bentov, seria capaz de gerar estímulos na base da coluna vertebral, que migrariam até o cérebro, ativando sensações específicas. Estes efeitos foram mimetizados, nos estudos de Bentov, por meio de vibrações acústicas na faixa de 4 a 7 Hertz, o que comprovaria a eficácia do uso de ondas binaurais no método Portal.
- Retroalimentação Biológica: esta outra técnica de alteração de consciência consiste em “ensinar” o cérebro quais são os caminhos elétricos percorridos para se alcançar um certo estado de consciência. Então, o cérebro aprende a mimetizar propositalmente os caminhos elétricos que usou, e assim consegue voltar a um estado específico, de forma mais rápida, após prática e exercícios.
- Sincronização de Hemisférios: ao invés de ligar ou desligar hemisférios, na técnica usada no Projeto Portal, os hemisférios cerebrais são sincronizados, o que causa a sensação de se estar recebendo informações diretamente do ambiente, sem os filtros cotidianamente ativados.
- Resposta a frequências: segundo o instituto Monroe, o cérebro humano normalmente funciona como uma lâmpada, de forma intermitente. Nos estados alterados, funciona como um laser, gerando estímulos de forma contínua e ordenada. A interpretação das informações, neste estado, não ocorre por meio de linguagem verbal, mas sim simbólica. Os estados são alcançados por estímulos sonoros devido à tendência do cérebro de mimetizar estes estímulos ritmados, quando estes são ouvidos de forma subliminar (ocultos sob camadas de som).
- Ressonância: a ressonância das batidas do coração por todo o corpo também teria um papel importante na técnica, sendo este papel compartilhado com outras técnicas como o Yoga ou a meditação. As ondas que percorrem o corpo, quando medidas por um sismógrafo, têm uma amplitude de cerca de três vezes a média do volume produzido pelo coração, indicando uma ressonância, ou seja, ondas que se retroalimentam ao entrarem em sincronia, ao invés de se dispersarem.
- Frequência: quando alcançam cerca de 6,8 e 7,5 Hertz, os estímulos cerebrais e corporais seriam capazes de percorrer rapidamente a ionosfera terrestre, que ressoa entre 7 e 7,5 Hertz por si só. Isso explicaria a capacidade de obter informações em tempo quase real, mesmo de localidades distantes.
- Entrelaçamento Energético: quando o corpo ressoa com a ionosfera ao seu redor, este seria capaz de se entrelaçar com elementos que vibram naquele mesmo campo eletromagnético. Assim, também seria possível que a consciência percorresse o campo eletromagnético, o que (em outra linguagem) seria análogo a focar a atenção em uma frequência específica que se encontra no mesmo campo ou matriz de consciência — incluindo outras mentes que estejam no mesmo estado.
- Hologramas: como as frequências se sobrepõem, é possível separar ou desconvolucionar uma frequência complexa em suas frequências simples constituintes. Sendo assim, de qualquer local seria possível obter informações sobre qualquer outro local, bastando ter acesso à ionosfera que contém a combinação de todas as frequências ali “mergulhadas”.
- Espaço-Tempo: a explicação para a obtenção de informações em diferentes tempos, alcançada em estágios mais elevados do Programa, é mais complexa, e ainda não foi completamente desvendada pela ciência (embora a Relatividade Geral tenha muito a acrescentar neste ponto). Esta atividade seria possível, em uma das alternativas, no caso do tempo ser cíclico, com o Universo surgindo em um Big Bang e alcançando um novo Big Crunch até se reunir em um novo ponto único. Neste caso, as vibrações de todos os momentos no tempo continuariam vagando como um padrão de interferências, sendo portanto acessíveis de qualquer instante. Todo o tempo, e não só o espaço, também faria parte do holograma.
Conclusões
Há relatos de fontes confiáveis que visitaram a NASA e afirmam que as técnicas do Programa Portal foram testadas nesse órgão majoritariamente para desenvolver um método de contato entre astronautas em regiões sem alcance de ondas eletrônicas, ou com muita interferência no sinal. Em outra leitura, o objetivo mais geral teria sido o de treinar o autocontrole e ampliar a motivação dos oficiais. Independente do objetivo específico, percebe-se que os relatórios constituem um valioso ponto de partida para o entendimento científico dos estados alterados de consciência.
A ciência não precisa validar a magia, e não precisa haver hierarquia ou ordem de valor entre ambas. Pelo contrário, no novo Aeon, magia e ciência devem andar juntas, propiciando a evolução uma da outra sinergicamente.
Ambas buscam, afinal, um entendimento cada vez mais completo do nosso Cosmos, e do que há por trás: o Caos.
Aqui termina o Dossiê.
Arquive-se como CONFIDENCIAL.
Sem maiores informações.
Ass: RoYaL.
Referências: Carta à CIA; Apresentação do Programa; Comunicação detalhando o Programa; Relatório de Análise e Resultados do Programa; Livro de Estudos do Programa.