Magia Karajá
Cosmologia e Deuses Primordiais
Segundo o site PIB Socioambiental, “O nome deste povo na própria língua é Iny, ou seja, “nós”. O nome Karajá não é a auto-denominação original. É um nome tupi que se aproxima do significado de “macaco grande”. As primeiras fontes do século XVI e XVII, embora incertas, já apresentavam as grafias “Caraiaúnas” ou “ Carajaúna”. Ehrenreich, em 1888, propôs a grafia Carajahí, mas Krause, em 1908, consagra a grafia Karajá.
Habitantes seculares das margens do rio Araguaia nos estados de Goiás, Tocantins e Mato Grosso, os Karajá têm uma longa convivência com a Sociedade Nacional, o que, no entanto, não os impediu de manter costumes tradicionais do grupo como: a língua nativa, as bonecas de cerâmica, as pescarias familiares, os rituais como a Festa de Aruanã e da Casa Grande (Hetohoky), os enfeites plumários, a cestaria e artesanato em madeira e as pinturas corporais, como os característicos dois círculos na face”.
Cosmogonia
No princípio do universo, não havia nada, somente a escuridão e Xiburé, O Criador. Aquele que nunca nasceu, apenas sempre existiu, sem nenhuma explicação. Ele é A Existência, que sempre existiu sem nunca ter deixado de existir antes. Ele produziu a matéria, o espaço e o tempo. Ele não tinha nada, nenhum parentesco, nem mesmo corpo tinha. É A essência da vida. O Princípio e O Fim.
Cosmologia
Após a criação do mundo, da natureza, dos deuses, dos espíritos e das criaturas, Xiburé, o deus supremo, criou Tsuu (sol), que no começo dos tempos não iluminava nem a terra e nem as águas. Xiburé criou diversos povoados para cada um dos planos (incluindo os três céus).
As Águas
O mundo começava de baixo para cima. O primeiro plano a ser feito não foram os três céus e nem a terra, mas sim as águas. Todas as tribos de lá são chamadas de Beeludu (habitantes da água). Este lugar é chamado de Berahatxi, e é formado por muitos buracos, interligados por túneis, localizados dentro de uma grande pedra. Apesar de possuir muita beleza, Berahatxi era também muito frio. Mas a vida por lá era muito especial, a beleza e a juventude eram eternas, o lugar era mantido por intensa magia, tudo surgia espontaneamente conforme o desejado, e por causa disso não existia trabalho. Entre as tribos perigosas existiam os Seni, Irurèrurè, Wareni, Txureheni, Txureheni e os Krolahi, que eram inimigos dos demais e sempre entravam em confronto com os Inys. Os Inys eram aliados dos hári (pajés ou xamãs), que garantiam a segurança da entrada e da saída de Berahatxi. Eram os hári quem mantinham as conexões entre os cinco reinos do mundo.
A Terra
Eram poucos os povos que viviam em Wasureny (Os planos terrestres), eram chamados de Suuludu (habitantes da terra) ou de ityamahãdu (o povo do meio/metade). Alguns desses povos eram os Kuratanikèhè, que viviam em Marani Hãwa (ao redor do atual Lago do Bananal), de onde vieram muitos dos Javaé atuais. E os Bisarukèrè, na região do Imotxi (um afluente do Riozinho), tido como o povo mais evoluído em relação ao conhecimento místico e medicinal. Entre algumas outras tribos. No mesmo plano dos suuludus, existe uma sexta dimensão invisível onde habitam legiões de aõni (espíritos) dos worosy (mortos).
Os Céus
Os Biuludu são os habitantes dos três reinos celestes: Biurawetyky, Kanyxywèisy e Xiburèisy. Todos os habitantes dos Céus são manifestações do próprio Xiburé que se dividiu em legiões de seres alados, espirituais, místicos e míticos como os heróis Ijanaòtu e Kanysiwè. Cada um de suas manifestações possui suas próprias consciências, sentimentos, características físicas e psicológicas, bem como mitos e histórias. Xiburé também tem entre suas manifestações o Sol (Tsuu), a Lua (Ahadu) e as estrelas (Tahina).
As Máscaras Bo
No principio dos tempos, os inimigos dos Karajá habitavam o Oeste do Araguaia, na Bacia do rio Pau d’Arco. Eles tinham duas máscaras de tamanduás, chamadas máscaras Bo, que eram ritualísticas. As máscaras Bo nunca haviam sido usadas, pois corria a notícia de que vieram do fundo do rio, onde coisas estranhas aconteciam. Certa vez, um homem vestiu uma das máscaras Bo, começou a dançar entoando um cântico simbólico, e chamou por seu Kram (irmão) para que fizesse o mesmo que ele. Os dois dançaram durante o dia e a noite inteira.
Quando finalmente quiseram se despir das máscaras, os cordões sobre a cabeça tinham-lhes crescido crânios a dentro, saindo pelas narinas. Os cordões da nuca da máscara saíam — lhes pela boca e os dos ombros haviam penetrado entre as costelas. Não puderam mais tirar as máscaras.
Os dois irmãos, agindo como se fossem os mesmos animais que as máscaras Bo representavam, correram até a margem do rio acompanhados por todo o povo e se jogaram nas águas. Ao fazerem isso, ambos caminharam nas águas como se fosse terra firme. Esse era o poder das máscaras. Embaixo das águas, todos puderam ouvir um grande barulho, e então os Karajás saíram do fundo do rio para ver o que estava acontecendo. Ao se depararem com a cena, socorreram os dois irmãos e os puxaram para baixo, onde moravam. Essa foi a primeira vez que os Karajá foram vistos fora das águas.
Os Aruanãs Conhecem a Morte
No início dos tempos, quando foram criados pelo Ser Supremo Xiburé, os Karajá eram imortais. Viviam felizes como Aruanãs debaixo d’água e não conheciam nada que não fosse dos rios e das águas. No fundo do rio onde viviam havia um buraco pelo qual vinha uma luz que os fascinava. Essa luz ressaltava as cores das escamas dos peixes e de tudo que existia por perto. Quando se aproximavam daquele buraco, ficavam curiosos. Tentavam ver com ansiedade o que era aquilo. Por causa da luminosidade, não conseguiam divisar o que existia além do buraco. Mas o Ser Supremo Xiburé havia proibido que entrassem ali, senão perderiam a imortalidade. Apesar da tentação, eles obedeciam fielmente.
Certo dia, um Aruanã ousou e foi ver o que existia do outro lado daquele buraco luminoso. Ficou surpreso quando chegou às areias brancas do rio Araguaia e descobriu encantado um mundo maravilhoso, totalmente diferente do seu. Uma paisagem deslumbrante. Viu o céu de um azul profundo com um Sol radiante iluminando e aquecendo a natureza. Pássaros multicoloridos se misturavam no ar com muitos matizes. Escutou a música do canto das araras, periquitos e sabiás. Muitos animais estavam em paz, um do lado do outro: tamanduás, onças, cutias. Nas campinas, flores perfumadas. Nas florestas, árvores carregadas de frutos.
Então resolveu voltar ao buraco luminoso para que pudesse descrever para os seus parentes tudo o que tinha visto. Todos os seus parentes, mesmo sem entender tudo que ouviram, quiseram logo acompanhar o jovem afoito. Mas os mais experientes, os anciãos, disseram com grande sabedoria que não era aconselhável desrespeitar as ordens do Criador, e decidiram pedir-lhe a permissão. Todos os Aruanãs concordaram e assim fizeram. Depois de ouvi-los, O Criador Xiburé respondeu:
“Entendo que queiram transpor o buraco luminoso, que os levará deste mundo a outro de cores e beleza. Lá, poderão contemplar a majestade do Sol. Descobrirão flores, frutos e animais. Poderão se divertir e deliciarem-se com as águas claras do rio Araguaia e suas areias brancas. Dançar ao som do canto dos pássaros.
Mas revelo a vocês o que não sabem, nem veem. Toda a beleza naquele mundo é efêmera como a borboleta das águas que conhecem, que nasce hoje e desaparece amanhã. Os seres de lá não são como vocês: nascem, crescem, envelhecem e caminham para a morte. São mortais. Vocês ganharão a liberdade, mas perderão a imortalidade. A decisão é de vocês”.
Houve um grande silêncio. Todos estavam fascinados com a possibilidade de viver a beleza, confirmada pelo Ser Supremo Criador Xiburé. Então, responderam: “Sim, pai, queremos ir viver no paraíso dos mortais”. E todos aqueles Aruanãs passaram entusiasmados pelo buraco luminoso para chegar ao mundo da beleza efêmera e alegrias finitas. Até hoje os Karajá vivem naquele paraíso, às margens do rio Araguaia. Concentram-se, principalmente, na ilha do Bananal, onde vivem até hoje. Mas com isso passaram a envelhecer, e conheceram a morte.
Kanysiwè, o Trickster
Houve um tempo em que os Kuratanikèhè e os Bisarukèrè puderam presenciar quando diversos povos das profundezas das águas subiram para os planos terrestres. Um desses povos eram os Ijèwèhè, que subiram por entre as pedras de onde hoje fica a Lagoa da Confusão, e foram se alastrando até o atual São Félix do Araguaia. Em seguida subiram os Wou, que também se abrigaram por aqueles lados. Haviam também os Werè, os Kuatynekehè, os Besohoni, os Kalatina, os Karajá e os Javaé. Cada um deles saiu em um lugar distinto. Os primeiros a saírem foram os Aruanãs. Cada um desses povos trazia seus costumes, sua cultura, seus alimentos típicos, instrumentos de caça, entre outros. E todos eles dividiam suas riquezas entre si.
Uma adolescente chamada Ijèwèhè, de beleza esplendorosa, entrou na floresta para descansar na sombra de uma árvore chamada txiwehe, cujos frutos estavam maduros. Sem resistir, apanhou um e comeu. O caldo escorreu por seu corpo nu e alcançou o meio de suas coxas. A árvore era sagrada, e o mel daquela fruta possuía encantamento que a fez engravidar instantaneamente.
Essa criança nasceu em poucos dias, e foi nomeada de Kanysiwè.
Assim como Xiburè é um Deus perfeito e bondoso, Kanysiwè é um Trickster que utiliza das formas mais desonestas para alcançar seus objetivos. Possui força descomunal, sendo também a mais inteligente entidade da mitologia Karajá. Tem o poder de transformar humanos em animais e em constelações, e tem a habilidade de se transformar no que quiser, tendo sua preferência nas formas animais. Criou o ato sexual, formou a primeira família e plantou as primeiras árvores frutíferas. Roubou o fogo de Rararèsa, o Urubu-Rei, e o trouxe para a humanidade, entre muitos outros feitos.
A Criação do Sexo
Quando adolescente, Kanysiwè começou a intrigar-se com a função de seu pênis quando ereto. Experimentava colocá-lo em contato com a mandioca, a banana, as batatas, todos os alimentos que sua família iria comer naquele dia, mas nada acontecia. Certa vez, ele viu a vagina da própria avó, que estava nua, e sentiu desejo sexual, um sentimento inexistente para todos até então. Entendeu que a função do pênis era entrar numa vagina. No dia seguinte, viu a avó sair para fora indo em direção à mata. Rijo, como estava a dias, resolveu segui-lá, se pintou todo de preto, transformando-se num Kralahu Ixuju (Kaiapó, inimigos dos Karajá) para poder atacar a avó. Logo depois que ele a encontrou só e a estuprou, correu, lavou-se rapidamente na água e voltou para casa. A avó, minutos depois, voltou gritando por socorro, alegando que um bicho, uma coisa, um homem, a havia atacado. Kanysiwè ficou quieto, mas o pássaro Kuritxi, que presenciou o acontecimento, contou a todos o que havia sucedido, denunciando o terrível ato do neto com a avó.
Devido a esse acontecimento, os humanos herdaram esse costume de fazer sexo, de produzir filhos, para aumentar a população, que antes era apenas expandida de forma mágica. O exemplo de Kanysiwè foi seguido por várias espécies, e os animais começaram a fazer sexo tanto quanto os humanos.
Aruanã Resgata a Noite
No início do mundo, o Sol brilhava eternamente no céu. Ficava solitário, triste, apenas sonhando com as quatro fases da lua, mas não podia manifestá-las se não houvesse noite. A noite vivia aprisionada pela Boiúna, a Grande Serpente, no mais fundo dos rios, dentro de um coco de tucumã. Assim, os animais não podiam dormir, e estavam todos muito tristes, sempre sob o calor do Sol. Na mesma época, a filha da Boiúna, Tuilá, se casou com um forte guerreiro Karajá chamado Aruanã. O guerreiro contou à esposa que queria dormir, mas não podia pois não havia noite. A filha da Boiúna, então, pegou um chocalho que ficava guardado pelo peixe Jaraqui no fundo do igarapé, e deu a seu marido para que ele pudesse invocar a Grande Serpente e resgatar o coco. Após navegar em uma canoa, Aruanã avistou uma arara vermelha que marcava o lugar, e tocou o chocalho.
A Boiúna já sabia o que ele queria, e trouxe até ele o coco de tucumã, alertando-o de que só o abrisse na presença de sua filha, Tuilá, que saberia como proceder.
Aruanã agradeceu e foi embora em sua canoa. Voltando para casa com o coco de tucumã em suas mãos, Aruanã foi ficando cada vez mais curioso, e cada vez com mais vontade de abrir o recipiente e libertar a noite sozinho. O coco estava selado com cera de abelhas, então o guerreiro aportou sua canoa em um local seco para fazer uma fogueira. Usando o calor do fogo, derreteu a cera para que pudesse abrir o coco. Mas, assim que fez isso, a noite tomou os céus, e o mundo ficou mergulhado em uma escuridão profunda e eterna. Vários espíritos nefastos foram libertados de dentro do coco junto com a noite, e o mal se espalhou pelo mundo. Aruanã percebeu que tinha tomado uma decisão errada, e saiu correndo em busca de sua esposa, Tuilá. Mesmo decepcionada com seu marido, Tuilá o perdoou, e disse que tentaria resolver a questão. Pegou um pouco de barro e moldou um pássaro, o Cajubi, que anunciaria a separação entre o dia e a noite. Quando o pássaro adquiriu vida, a noite se separou do dia, e o mundo estava em equilíbrio novamente.
O Roubo do Sol
No tempo de Kanysiwè, o sol andava rápido demais; amanhecia e logo escurecia novamente em questão de poucos minutos. As pessoas sofriam muito. Saíam para pescar, ou iam para a roça, e lá mesmo a noite os alcançava em pouco tempo. Kanysiwè quis dar um jeito nessa situação. Caminhou por muito tempo pensando em obter o fogo do Sol para si, até que decidiu se transformar em um animal morto. Colocou sumo de embaúba (asukò) em seu interior para que escorresse pelo seu ânus, fingindo-se de morto.
O cadáver em putrefação atraiu os abutres. Uma mosca veio, entrou pela sua boca e saiu pelo ânus, atestando que ele estava morto. A kotxyryry (mutuca) também veio e mordeu sua pálpebra; depois entrou pela boca e saiu pelo ânus. Então os abutres desceram. O rara (urubu) desceu e posou direto em sua barriga. Kanysiwe gemeu ligeiramente com o impacto. Mas ninguém escutou. Só o pequeno Hãnaija (gavião), que desde o começo advertia aos outros pássaros de que o bicho ainda estava vivo. Mas foi em vão. Os carniceiros foram, então, chamar o rararèsa (Urubu-Rei, aquele que possuía o sol em seus domínios). Ele veio descendo sobre a barriga de Kanysiwè, que o agarrou na mesma hora e lhe disse que não o iria machucar, mas só o iria soltar se lhe entregasse o seu grande adorno plumário de cabeça, seu raheto (seu Sol).
Tentando enganar Kanysiwè, o Urubu-Rei lhe entregou um outro cocar, que continha a estrela d’alva. Kanysiwè insistiu, insatisfeito, e o seu prisioneiro lhe entregou outro cocar, contendo a Lua. Kanysiwè teve uma ideia genial, e deu uma flechada na perna da Lua, de modo que ela passou a caminhar lentamente pelo céu. Mas ainda não era suficiente. Cedendo à sua insistência, o Urubu-Rei finalmente lhe entregou o cocar contendo o Sol. Kanysiwè também o flechou na perna, e por isso hoje o Sol também anda lentamente pelo céu, de modo que as pessoas podem trabalhar de maneira satisfatória. Dia e Noite, então, equilibraram-se. Por fim, Kanysiwè soltou o Urubu-Rei de sua armadilha.
A Criação da Agricultura
Um casal teve duas filhas: Imaherô, a mais velha e Denakê, a mais nova. Num anoitecer de céu estrelado, Imaherô viu Tahina-can (ou Tainahakỹ, a grande Estrela d’Alva) brilhar tão bela que não se conteve e disse: “Pai, é tão bonito aquilo! Eu queria possuí-lo!”. O pai riu e disse-lhe que Tahina-can estava tão longe que ninguém o poderia alcançar. Contudo acrescentou: “Só ele, ouvindo-te, poderá vir”.
Alta noite, quando todos dormiam, a moça sentiu que alguém estava ao seu lado. Sobressaltada, indagou: “Quem és e o que queres de mim?”. A voz respondeu: “Eu sou Tahina-can, ouvi que me querias e vim pronto para me casar contigo”.
Imaherô acordou os pais, que acenderam o fogo. Tahina-can era um velho, de cabelos brancos e pele enrugada. Vendo-o à luz da fogueira, Imaheró disse: “Não te quero para meu marido. Eu quero um moço forte e bonito”. Tahina-can ficou muito triste e chorou. Então, Denakê, a irmã mais nova, compadeceu-se dele e procurou consolá-lo dizendo: “Pai, eu me caso com ele!”
O casamento realizou-se, com grande alegria do velho. Depois de casado, Tahina-can disse: “Vou trabalhar para te sustentar, Denakê. Vou fazer um roçado para plantar coisas boas, que Karajá ainda não possui nem conhece.”
Foi ao Berô-can (rio Araguaia), dirigiu-lhe a palavra, e, entrando nele, ficou com as pernas abertas, de maneira que as águas passavam entre elas. Curvado para a corrente, de vez em quando mergulhava as mãos e apanhava algumas sementes, que o Rio Araguaia ia lhe dando. Assim, as águas deram-lhe um punhado de milho cururuca, feixes de raiz de mandioca, e muito mais. Saindo do rio, ele disse a Denakê: “Vou derrubar mato para fazer roçado. Porém, não venhas me ver no trabalho, fica em casa, cuidando da comida”.
Em casa, preocupada com a demora, Denakê resolveu desobedecer às recomendações e foi, de mansinho, procurá-lo. Quando chegou lá, surpreendeu-se, pois quem estava ali a trabalhar era um belo moço, alto, cheio de força e de vida, que tinha no corpo os enfeites e as pinturas que os Karajá ainda hoje usam. Denakê não se conteve, e louca de alegria correu a abraçá-lo. Depois, o levou consigo para casa, contente por mostrar aos pais como seu esposo era na verdade. Foi então que Imaherô o desejou também e disse a Tahina-can: “Tu és meu marido, pois vieste para mim e não para Denakê”.
Mas Tahina-can respondeu-lhe: “Só em Denakê encontrei bastante bondade, para ter pena do pobre velho. Agora não te quero, só Denakê é minha!”
Imaherô, de despeito e inveja, soltou um grito, caiu no chão, e no lugar dela viu-se um Urutau, pássaro que ainda hoje dá um grito triste e tão forte que parece ser uma ave muito maior. Foi assim que a nação Karajá aprendeu com Tahina-can a plantar o milho, o ananás, a mandioca e outras coisas boas que antes não conhecia.
Referências: https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Karaj%C3%A1; TORAL, 1992 — Cosmologia e Sociedade Karaja; curta-metragem sobre a mitologia Karajá.