Magia Tupy
As Mandalas Kuaracy Korá
Os indígenas Tupy habitavam a Região da Vila de São Vicente, que hoje é um município em São Paulo, e de forma mais geral a denominação Tupy foi dada a várias outras etnias indígenas que habitavam a Costa Brasileira na época da chegada dos portugueses.
O Mundo Verdadeiro
Na cosmogonia e na cosmologia Tupy, existe o conceito do Mundo Verdadeiro, luminoso e inefável que existe por trás do nosso mundo, ao qual chamamos “realidade”. O mundo real seria formado pelas emanações (Kuara) deste mundo Verdadeiro.
Portanto, o mundo Verdadeiro seria a mãe (Cy) das emanações, KuaraCy. É comparável ao Mundo das Ideias Platônico, ao Caos no Caoísmo ou ao Vácuo Quântico na Física Quântica, e contém tudo o que existiu, existe e existirá, mas ainda nada manifestado.
Tupy, o Assento do Som
Segundo Kaká Werá, “o indivíduo, na tradição tupi, é composto de duas partes, conforme a própria expressão desta palavra, traduzida da língua ancestral:
A sílaba TU significa “som”, no sentido de “expressão vibratória”, e a sílaba PY significa “assento”, no sentido de “corpo físico”.
Portanto, a palavra tupi, em seu significado original, significa “emanação vibratória assentada em um corpo físico”, ou literalmente “som-de-pé”. Tal “emanação vibratória” nada mais é que a consciência ou mente, mas num contexto mais amplo que o habitual”. Os seres humanos são vistos, portanto, como emanações assentadas em corpos físicos, o que demonstra mais uma vez a questão de Kuaracy sendo anterior e primordial, ao passo que os corpos são receptáculos para suas faíscas energéticas.
O Círculo dos 3 Mundos
Partindo do mundo Verdadeiro, primeiramente os aspectos se especializam, separando-se em elementos, e em seguida estes elementos se manifestam. Sendo assim, há 3 mundos pelos quais a energia passa em seu caminho de manifestar-se: o Mundo da Emanação, o Mundo da Modelagem e o Mundo da Manifestação. Os Arquétipos vivem no mundo da Emanação, e suas Imagens Arquetípicas no mundo da Modelagem. Já os objetos e as manifestações em si formam-se no terceiro mundo.
Por exemplo, poderíamos encontrar nos três mundo o Arquétipo Flamejante (fogo, raiva, ira, energia, plasma), a Imagem Arquetípica Fogo (fogo alquímico, naipe de paus) e a Manifestação de uma chama de vela em si (fogo físico).
Estes três mundos são representados, de dentro para fora, na Mandala (Korá). Cada elemento desta mandala pode ser representado por um tipo de objeto, de acordo com seus aspectos.
Segundo Débora Dalsasso, a mandala pode ser feita em um altar ou no chão, e podem ser utilizados os seguintes elementos:
- Jakairá (Sagrado poder do Ar — direção Norte: sol no alto): incenso, ametista (pedra que fortalece a Mente superior) e penas;
- Karaí (Sagrado poder do Fogo — direção Leste: nascer do sol): imagem do Sol, citrino(pedra que tem a energia do Sol);
- Iacy (Sagrado poder da Água — direção Sul: não tem sol): flor, água, apofilita (pedra que tem água no seu interior. Voz interior);
- Tupãcy (Sagrado poder da Terra — direção Oeste: pôr do sol): quartzo rosa (pedra do amor) e um pouco de terra fértil;
- Centro (O Pai Céu, a Mãe Terra e o Grande Som): vela ou cristal irradiador.
Arco-Íris de divindades
Segundo o autor Kaká Werá, o mundo da Modelagem possui quatro Senhores da Forma, que são as entidades que comandam os quatro elementos. Em tupi-guarani, são chamados Nhandejara. Essas quatro entidades ocupam quatro portais na Cosmovisão Tupy, chamados de “quatro direções”. São elas denominadas:
- Karai-ru-etê — situado no oriente (Fogo);
- Yacy-ru-etê — situado na direção do cruzeiro do sul (Água);
- Tupancy-ru-etê — situado no poente (Terra);
- Jakairá-ru-etê — situado na direção das três-marias (Ar).
Já o “Grande Centro Luminoso”, ou fonte emanadora permanente da vida, desdobra-se em sete ou oito “tons” de expressão, simbolicamente representados pelo arco-íris que se expande de sua “Clara Luz”. Estes sete aspectos da mesma Consciência Divina formam um panteão de divindades irradiadoras de determinadas qualidades, que são:
- Kuaracy — aspecto da claríssima luz da emanação;
- Tupã — aspecto do som criador, ou vibração, da emanação;
- Nhamandú — aspecto da respiração silenciosa e do ritmo da emanação;
- Jakairá — aspecto que sopra a emanação;
- Karai —aspecto que transforma a emanação em centelha;
- Yacy — aspecto que transforma a emanação em substância;
- Tupancy — aspecto que transforma/ transmuta a emanação;
- Nhandecy — aspecto que gesta e materializa a emanação.
Referências: texto de Kaká Werá para a Revista “Ecos da Alma Brasileira”, vol. 2 — Instituto Civitas Solis; textos de Débora Dalsasso sobre o Sagrado e sobre o Sistema Ambá Yu.