Metafísica Egípcia

Do Caos à Ordem na criação do Cosmos

Projeto Xaoz
5 min readOct 18, 2018
Imagem: Maat representada em mural egípcio, foto por Kurt Buzard.

No Antigo Egito tudo girava ao redor de Maat, a Ordem do Mundo ou Ordem Cósmica. Essa ordem deveria ser mantida no império, através da figura do Faraó, dos habitantes e até mesmo pelos deuses. Caso Maat fosse perdida, o mundo e o cosmos colapsariam e tudo retornaria ao Oceano Primordial, o Nun. Dessa forma, tudo era organizado para que a ordem fosse preservada, tanto no plano divino, quanto no plano sutil e físico.

Do ponto de vista heliopolitano, existem as seguintes forças:

  1. Pré-existentes: Nun (Caos) e Rá (Criação Ordenada);
  2. Contrária: Apep, a serpente que tenta retornar ao Caos;
  3. Intrínsecas: Thoth (Sabedoria Divina) e Maat (Ordem Divina);
  4. Maléfica: Isfet, como a Desordem e Mal.

Na Litania de Rá, o criador possui 74 aspectos que se manifestam em diferentes formas ou deuses no decorrer da formação cósmica e após. Sendo assim, após cada etapa de manifestação, podem ser analisadas quais destas 74 formas correspondem a cada entidade. Estes aspectos seguem as manifestações da energia criadora, do Caos Original ao Mundo Habitado e Submundo.

A seguir vamos verificar parte dessa metafísica que preservava a Ordem Cósmica. A começar pela própria criação.

Imagem: Nun levantando o barco do Deus Sol das águas primordiais.

A Criação

No início, existia o Nun, o grande oceano, a Água Primordial. Atum, autogerado, habita dentro dele. Nessa força dual havia toda a existência e não-existência, todas as possibilidades e impossibilidades.

Nun seria a Forma 10, O Abismo Aquoso; Atum seria a Forma 44.

Primeiro momento — Manifestação e Polarização

Após tomar consciência, Rá se eleva como o Sol Primordial, o Fogo Elemental, aquele que dá a ignição, transforma, estando no centro de tudo. Este movimento é caracterizado pela Colina Sagrada ou obelisco (Benben). Após emergir acima do Nun, a luz é feita, iluminando a escuridão caótica com a Sabedoria e Ordem divina (Thoth e Maat). Já de posse de seu Saber e da Ordem, Rá emana Shu, o Ar Elemental e princípio masculino criativo. Este Ar entra em contato com a agua do Nun e o fogo de Rá, surgindo assim, a umidade que equilibra o ar seco de Shu, representada por Tefnut, princípio feminino gerativo. É formada a primeira tríade: Princípio transformador (Fogo), princípio masculino criativo (Ar), princípio feminino gerativo (Umidade).

Shu seria a Forma 45; Tefnut seria a Forma 7.

Imagem: Shu e Tefnut atrás do faraó.

Segundo momento — Expansão

Shu e Tefnut se unem e surgem Geb e Nut. Geb, o Elemento Terra e Nut, o Cosmos. Inicialmente, terra e céu estavam unidos. Shu separa céu e terra, através da expansão da vontade divina de Rá, gerando o espaço ordenado e criando o espaço habitável.

Geb seria a Forma 46; Nut seria Forma 8.

Terceiro momento — Diferenciação

Geb e Nut se unem, gerando os deuses que irão habitar o mundo recém-criado. São feitos o vale fértil do Nilo e as terras estrangeiras/deserto. Osíris e Isis, reflexos dos polos masculino e feminino primordiais, sendo Osíris o deus da agricultura e fertilidade, associado à Orion e Isis, deusa da magia, maternidade, manifestação gerativa na terra, associada à Sothis. Heru-Wer, o Sol que nós vemos, reflexo do Sol Primordial. Seth, como o deserto estéril violento e Senhor da Força e metais, Néftis como o vento quente que sopra do Saara e protetora dos mortos. Neste momento, a criação de fato termina. O cosmo e mundo como conhecemos está criado e ordenado.

Osíris seria a Forma 59, Senhor do Submundo; Isis seria a Forma 47; Hórus seria a Forma 48; Seth seria a Forma 36, Senhor da Força; Néftis seria a Forma 9.

Quarto momento — Formação (2ª Manifestação)

Rá, em seu aspecto de “Criador de Corpos” (Khnum-Rá ou O Grande Carneiro) molda com o barro do Nilo todos os seres vivos em seu Oleiro. Neste momento, o mundo físico ou humano está feito e organizado. Maat está totalmente manifestada, Thoth está gerindo tudo o que foi feito, e Rá com sua companhia de deuses estabelecidos.

Khnum-Rá seria a Forma 12, Grande Carneiro, ou Fazedor de Corpos, forma 64.

Imagem: Khnum-Rá em mural egípcio.

Quinto momento — Dissolução (3ª Manifestação)

Após Rá chegar a seu aspecto ancião (Atum), ele se aproxima da Montanha Oeste e entra no Submundo com sua Barca Noturna (Mesektet), que é um território abaixo da terra. O Duat é uma região com características próprias, na qual o deus sol entra, passa por diversas transformações e perigos, renascendo forte e jovem como Khepra na Montanha Leste. Um desses perigos é o enfrentamento de Apep, a Serpente Caótica, na sétima hora noturna ou sétima região (Livro AmTuat e Livro das Portas). O submundo é considerado um dos aspectos da terra ligados à Tatenen, a terra antiga e primordial que emerge do Nun na forma da Colina Sagrada. Há um aspecto de Geb que também é compartilhado com Tatenen, sendo Geb-Tatenen as terras profundas. O Duat é formado por diversas regiões. Este reino será tratado posteriormente.

Khepra seria a Forma 6, O Que Se Torna

Imagem: esquemático dos diversos ciclos e momentos de manifestação (elaborado por Allan Koschdoski).

Por: Allan Koschdoski.

Referências: Senapati, Kartikeya. The Litany of Ra. Academia. [Online] www.academia.edu/1493217/The_Litany_of_Ra; Budge, E. A. Wallis. The Book of Am-Tuat. Sacred Texts. [Online] 1905. www.sacred-texts.com/egy/bat/index.htm; The Book of Gates. Sacred Texts. [Online] 1905. www.sacred-texts.com/egy/gate/index.htm; Wilkinson, Richard H. The Complete Gods and Goddesses of Ancient Egypt. Londres : Thames&Hudson Ltd, 2003.

--

--

Projeto Xaoz
Projeto Xaoz

Written by Projeto Xaoz

Este projeto visa compilar, analisar e desenvolver as bases do conhecimento de sistemas mágicos. Leia mais em: www.xaoz.com.br

No responses yet