Sekhmet-Ra-Bast
Três divindades, uma Manifestação
O uso da composição de divindades no Antigo Egito era bem comum, como pode ser observado por Amon-Ra, Ra-Atum, Ptah-Sokar-Osíris e outros (Ra-Hoor-Khuit, de Crowley?). Mut, a deusa mãe da tríade tebana (Quarto Nomo do Alto Egito, Waset) foi uma das que teve esse sincretismo múltiplo, se pudermos chamar assim. O culto dela era desconhecido até o Império Médio, quando Tebas retirou Amonet da trindade e a incluiu. Ela passou a ser cultuada de diversas formas, principalmente unida com outras divindades, como Isis e Nekhbet, com o deus Min, com Wadjet e Bast, Sekhmet Bast Mehit e, talvez a forma mais comum, Sekhmet-Ra-Bast.
Essa tríade sincrética coloca Mut como deusa criadora em posse de seus dois olhos, uma deusa tríplice. O próprio Rá entremeado por Sekhmet e Bast, o Criador equilibrado. Abaixo, seguem dois hinos: um do Templo de Hathor em Denderah e outro do Livro dos Mortos (Livro da Saída para Luz do Dia).
Hino do Templo de Hathor (tradução pessoal)
Sekhmet-Ra-Bast,
Aquela que tem poder sobre a hoste de seres
Sekhmet, a Filha do Grande Deus,
A Brilhante,
A Poderosa,
A Feroz,
A Resplandecente
Senhora das Ofertas,
Senhora das Transformações na testa de Ra que a gerou,
Uraeus única de muitas faces,
Aquela que derruba ou que dá Vida àqueles que estão sob Seu domínio,
Que seus Divinos Emissários ajam de acordo com tuas ordens.
Capítulo 164 do Livro dos Mortos (tradução pessoal)
Homenagem a Ti, Ó Sekhmet-Ra-Bast,
Tu, Senhora dos Deuses, Tu, portadora das asas,
Senhora das coroas do Sul e do Norte,
Única, soberana de seu pai,
Superior a todos os Deuses,
Tu Poderosa dos Encantamentos na Barca de Milhões de Anos,
Tu que és preeminente,
Quem se ergue no Trono do silêncio
Dama e Senhora do sarcófago,
Mãe no horizonte celeste.
Graciosa, Amada,
Destruidora de rebeliões,
Tu que permanece na proa da barca do Teu Divino Pai para derrubar o Mal
Tu colocaste Maat na proa da barca.
Louvada seja Ti, ó Senhora,
Tu és a mais poderosa dos deuses
E palavras de adoração ascendem a Ti dos Deuses de Heliópolis.
As almas vivas que estão em seus ataúdes louvam o Teu mistério.
Ó tu que és a mãe deles, fonte de quem eles nasceram,
Aquela que fez um lugar de repouso no submundo oculto,
Quem preserva do terror,
Quem fortalece na morada da eternidade,
Aquela que nos preserva da câmara maligna das almas do deus-da-face-terrível que está entre a companhia dos Deuses.
“Udjat de Sekhmet, Poderosa Senhora, Senhora dos Deuses” é o teu nome!
Texto e tradução para o português: Allan Koschdoski.
Referência: Livro da Saída para Luz do Dia, Capitulo 164, transcrição de Wallis Budge.