Sephiroth & Qliphoth

Duas árvores, Uma raiz

Projeto Xaoz
8 min readMar 27, 2018

Gênesis, 2:9 — “E o Senhor Deus fez brotar da terra toda a árvore agradável à vista, e boa para comida; e a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore do conhecimento do bem e do mal”.

No Éden, a Árvore da Vida e a Árvore do Conhecimento brotavam no mesmo lugar, porém Adão e Eva não poderiam comer da árvore do conhecimento, apenas da árvore da Vida, sob pena de serem expulsos do Paraíso. Nesta ocasião, ainda não existia a Sephira mundana, Malkuth, e a Sephira oculta, Daath, ficava em seu lugar no meio do Abismo.

Porém, a Serpente, que antes ficava do lado de fora do Paraíso, conseguiu entrar, trazendo consigo a perspectiva de Evolução para os humanos, assim como sua Ruína. Quando Adão e Eva provaram do fruto proibido, as Árvores se separaram. Originou-se a Árvore da Vida após a queda (contendo as 10 Sephira), e a Árvore do Conhecimento, anteriormente contida em Daath, adquiriu existência independente (contendo as 10 Qliphoth). Criou-se também o mundo terreno, contido na Sephira Malkuth, onde passaram a viver os humanos.

As Árvores e o Abismo

O conhecimento afasta o Homem de Deus, e agora é necessário discernir entre o Bem e o Mal. Por outro lado, o conhecimento permite a Evolução. Esta face dúbia do Conhecimento, que pode tanto ser destrutivo quando construtivo, é um tema comum presente em diversas mitologias ao longo das Eras.

Prometeu foi punido por entregar o conhecimento aos homens, assim como o Homem Platônico foi taxado como louco ao sair da caverna. Da mesma forma, diversos magistas tiveram seu declínio decretado após buscarem conhecimento de forma ávida e não regulada, sucumbindo ao serem encarados de volta pelo Abismo.

Quando as Árvores se separaram, de fato abriu-se um Abismo entre Tiphareth e Kether. Concomitantemente, o Homem ganhou duas possibilidades de caminhos para seguir em busca da transcendência. Um deles, o da Árvore da Vida, é mais estável, porém árduo devido à travessia do Abismo onde dantes se localizava Daath. O outro, o da Árvore do Conhecimento, é mais capcioso, porém fornece poderes maiores devido à jornada pelas regiões mais profundas da psiquê. A maioria das correntes atribuiu o juízo moral de “Mau” à Árvore do Conhecimento e às Qliphoth, e de “Bom” à Árvore da Vida e às Sephiroth.

Pontes pelo Abismo

Quando o magista alcança estágios mais elevados de transcendência pela Árvore da Vida, é levado a encarar o Abismo localizado onde antes ficava Daath. Isto não ocorre quando a transcendência é buscada pela Árvore do Conhecimento, uma vez que nesta jornada o magista anda pelo fundo do próprio Abismo — o que, por outro lado, é mais arriscado.

Ao longo das Eras, surgiram vários profetas e líderes espirituais que, tendo alcançado a transcendência, prepararam o caminho para que mais pessoas pudessem atravessar o caminho das Sephiroth sem terem que se preocupar com o Abismo. Neste caso, o magista trafega por uma Ponte que fica apoiada na Compreensão e na Sabedoria de um líder.

Imagem: as Árvores e a Travessia do Abismo, por Gabriel Costa.

Se essa escolha for feita, as Qliphoth não precisam ser enfrentadas, e são recalcadas no inconsciente. Porém, em momentos de atribulação, as pessoas que escolheram este caminho podem acabar vislumbrando o Abismo, e quando o fizerem não estarão preparadas para enfrentá-lo sozinhas.

As Qliphoth

A Árvore do Conhecimento é composta por 10 Qliphoth principais e mais uma Qliphoth oculta. Há várias teorias cabalísticas para a sua formação, entre elas a teoria supracitada, que descreve duas Árvores, e a teoria de que as Qliphoth teriam sido formadas com os cacos dos vasos que continham luz e formaram as Sephiroth. Além disso, há teorias que falam sobre a criação de dois universos totalmente maléficos antes do nosso, cujos restos ficaram no Abismo da criação e deram origem às Qliphoth.

De forma geral, assim como as Sephiroth correspondem às virtudes humanas, as Qliphoth estão ligadas aos pecados. Em outra linguagem, podem ser relacionadas com aspectos positivos (de concentração e manutenção) e negativos (de dispersão e evolução), respectivamente.

Imagem: Árvore do Conhecimento, por Gabriel Costa.

1. Lilith: é uma deusa da Noite, similar à Lil suméria, à Nix grega e à Kali hindu. Mãe dos monstros, guarda o acesso que leva a seus filhos, e representa a sensualidade e o poder femininos. A história de Lilith é contada no Zohar e no Livro de Ben Sira, tendo sido a primeira mulher de Adão, que foi expulsa para o deserto (Abismo) após não aceitar ser subserviente ao marido. Desde então, Lilith guarda o Portão para o conhecimento oculto, e é por meio desta Qlipha que se inicia a jornada pelo submundo.

2. Gamaliel: é a sombra da alma do mundo, e se manifesta na forma de Pesadelos e sonhos enigmáticos. A personificação de Gamaliel pode ocorrer na forma de Pan, Dionísio, Freyr ou Baphomet, e seu caráter é sedutor. Esta Qlipha também pode ser entendida como a consolidação do lado negro do inconsciente coletivo, ou mesmo a sombra do Ego. Por trás da linguagem aparentemente assustadora, se encontram conhecimentos valiosos sobre o plano Astral, a Feitiçaria, e a Magia pelo caminho da mão esquerda. O segundo passo da jornada, portanto, é encarar a própria Sombra para ter acesso a estes conhecimentos de forma plena.

3. Samael: encerra em si a filosofia do caminho da mão esquerda. Mais do que apenas sua utilização de forma prática, convida o magista a estudar o cerne de sua teoria, o que pode levar a maioria à Insanidade, se não houver foco e direcionamento. Samael passou a ser o marido de Lilith após sua queda, e também é associado a Lúcifer após ter sido expulso dos Céus, com forte caráter intelectual, o convencimento por meio da razão. O terceiro passo da jornada é enfrentar as questões morais e éticas que podem travar a evolução do adepto nas próximas Qlipha, e é um convite à desconstrução da linguagem com preceitos morais enraizados.

4. A’Arab Zaraq: esta Qlipha representa o início da batalha que o magista irá enfrentar ao se embrenhar mais profundamente no abismo. É associada a Baal, Odin, Ares, e outros deuses da Guerra. Nesta Qlipha, após se despir de preceitos morais mundanos, o magista encontra com a sua sombra e poderá absorvê-la para conhecer seu próprio Eu Superior. O quarto passo da jornada é este, a preparação para a guerra por meio da união com a sombra, e neste processo deve haver extremo controle para que esta união não resulte em Depravação, quando a sombra toma controle da psiquê, ao invés de ser controlada.

5. Thagirion: nesta Qlipha, a união dos dois lados da psiquê foi realizada, e a Sombra foi integrada à personalidade total. É correspondente aos Tricksters, como Loki ou Set, ou mesmo ao Sol Negro que é contraparte do Sol. Inicia-se, neste quinto passo, um julgamento para verificar se o magista tem em sua personalidade tudo o que é necessário para atravessar o restante das Qliphoth. Este julgamento só terá resultado positivo se o magista for uno, e se seus níveis mental e físico funcionarem como um só.

6. Golachab: esta Qlipha é uma das formas de atuação do Eu Superior, e está relacionada com a força. Os aprendizados obtidos aqui estão relacionados ao Apocalipse, ao que acontecerá caso o poder de severidade seja utilizado de forma exagerada. Neste sexto passo, o magista aprende a usar e controlar a raiva e a ira, e nesta etapa há correspondência com o Daemon Asmodeu.

7. Gha’Ag Sheblah: outra forma de atuação do Eu Superior, esta Qlipha está relacionada com o sofrimento. Os aprendizados obtidos aqui estão relacionados aos sentimentos que o magista enfrenta ao se ver em meio ao Abismo, correspondendo também à versão negra da “Noite Escura da Alma”. Neste sétimo passo, após aprendizados sobre a força, o magista aprende a usar a introspecção para alcançar seus objetivos, e nesta etapa há correspondência com o Daemon Astaroth.

8. Satariel: esta Qlipha corresponde à abertura do Olho de Lúcifer, permitindo o contato com os Dragões que até então estavam adormecidos em um nível profundo da psiquê. É representada por Lucifuge, aquele que foge da Luz. Neste oitavo passo, o magista já se despiu de suas roupas mundanas, em sete camadas, e encontra-se completamente nu frente aos instintos. Os instintos, caso controlados e utilizados da forma correta, permitirão a transcendência completa do plano físico, e a travessia do Abismo de uma vez por todas.

9. Ghagiel: a primeira Qlipha depois do Abismo é representada por BaalZebuth, pois neste momento o magista, Baal, atravessou o Abismo e retornou absorvendo os poderes de sua contraparte, Zebuth, transcendendo ao plano material. Neste estágio, o magista consegue controlar o Tempo, tendo acesso ao Passado, ao Presente e ao Futuro como seções de um mesmo espaço contínuo, e pode construir e reconstruir seus próprios universos.

10. Thaumiel: representada pelos deuses gêmeos Satan e Moloch, esta Qlipha une as características de “Rei” e “Rebelde” em uma só. É a própria Serpente que se infiltrou no Éden e causou a queda da Árvore, mas também trouxe evolução. Nesta etapa, a dualidade é quebrada, e o magista passa a ter acesso também à Árvore da Vida, pois as duas Árvores são novamente integradas como uma só. O Homem e Deus passam a ser um só.

11. Thaumiel: em um nível superior, Taumiel é também o Buraco Negro que se encontra no final do Abismo e tem o poder de converter conceitos em seus opostos. Desta forma, alcançando a décima Qlipha, há acesso também à Árvore da Vida, pois Thaumiel oferece ao magista o fruto Daath e permite a reconciliação entre opostos.

Ourobouros

Imagem: Ourobouros, por Gabriel Rollenhagen.

Ao alcançar Thaumiel, o ciclo se fecha.

Neste ponto, há libertação de todas as leis mundanas, e há maior evolução quando se está sujeito apenas a leis de um maior nível. Ao atuar diretamente no Caos, a linguagem que o magista usa passa a não ser mais dual, e entende-se que dois elementos aparentemente desconexos podem provir da mesma energia. Duas Árvores podem compartilhar a mesma Raiz.

A Serpente mostra que os conceitos de “Bem” e “Mal” não são separáveis, mas sim dois lados da mesma moeda.

Ass.: RoYaL.

Referências: Qabalah, Qliphoth and Goetic Magic — Thomas Karlsson.

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Este projeto visa compilar, analisar e desenvolver as bases do conhecimento de sistemas mágicos. Leia mais em: www.xaoz.com.br

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