Tiamat, Kingu e seus filhos

Entidades e Rituais

Projeto Xaoz
12 min readSep 28, 2018

No épico Babilônio da Criação, Enuma Elish ou Quando no Alto, também chamado “As Sete Tábuas da Criação”, é descrita a história de Tiamat e seus 11 filhos, os monstros primitivos que moldaram a Terra Primal antes de serem subjugados por Deuses com caráter mais intelectual, destacando-se Marduk, líder do panteão Babilônio (substituído por Asur na versão Assíria).

A versão mais conhecida do mito data do 7º século Antes de Cristo, mas estima-se que estas lendas existam na Babilônia e Assíria desde pelo menos o século 18 Antes de Cristo. Uma versão do Enuma Elish foi descoberta pelo pesquisador Henry Layard em 1849 em Nineveh, na biblioteca do Rei Ashurbanipal, consistindo de 1.000 linhas escritas em sete tábuas. A quarta tábua, no entanto, contém as partes mais importantes da história, e foi traduzida em 1887 por E. A. Wallis Budge.

No mito, Marduk (ou Asur) se eleva sobre todos os outros deuses e dá ordem ao Caos, criando o mundo e a humanidade a partir da escuridão primordial e de forças desordenadas. O épico era recitado durante rituais de Ano Novo na Acádia, e nestes rituais os monstros eram representados por cobras e escorpiões.

Os Filhos de Tiamat

As águas primais se moviam no Caos como turbilhões sem forma, até que, repentinamente, se dividiram em duas: as águas doces Apsu (princípio masculino) e as águas salgadas Tiamat (princípio feminino). Também surgiu uma neblina que levitava sobre as águas, Mummu, vizir de Apsu. O casal primordial deu origem a Lahmu e Lahamu, que deram origem a Anshar (o Céu) e Kishar (a Terra). Estes deram origem a Anu, que por sua vez foi pai do Grande Deus Nudimmud.

Apsu se incomodava com o barulho causado pelos deuses mais novos, até que Mummu aconselhou que matasse a todos eles. Tiamat não concordou com o plano e alertou Nudimmud, que matou Apsu e criou o céu a partir de seu corpo. Junto a sua esposa Damkina, Nudimmud teve um filho, Marduk, deus das tempestades, ventos e tornados. Este deus viria a travar uma guerra contra Tiamat, que queria se vingar da morte de Apsu.

Para ajudar em sua vingança pela morte de Apsu, Tiamat se casou novamente com um de seus filhos, o deus Kingu, e juntos eles criaram um terrível exército de 11 monstros.

Tiamat

Selo de Tiamat

Tiamat aparece como um oceano de águas negras, que primeiramente se mostram tranquilas, mas posteriormente se chocam em ondas e goram em redemoinhos. Causa a dissolução do ego, permitindo que o magista entre em um estado de receptividade para os poderes dracônicos específicos.

Os poderes de Tiamat são relacionados ao retorno ao primal, ao afogamento no oceano do inconsciente, mas de forma voluntária e sem relutar. Somente quando o magista se sente fluido, feito de consciência pura, é que pode navegar por essas águas, sem limites, e começa a enxergar pelos olhos do dragão. Ela provê cura, recuperação de forças, esvaziamento da mente.

Kingu

Selo de Kingu

Kingu é um guerreiro com pele de cobra e olhos flamejantes. Também pode aparecer como um homem com metade do corpo de escorpião, e cuja parte humana é coberta de escamas. Fala de forma furiosa e viril, mas na maioria das vezes se comunica de forma telepática apenas por contato visual.

Seu poder advém das Tábuas do Destino, dadas a ele por Tiamat, e que lhe garantem poder sobre todo o Universo. Nas Tábuas, estão escritos todos os feitos dos deuses desde o início dos tempos, e também todas as regras sociais, morais, religiosas e tecnológicas existentes. Estas Tábuas podem ser em número de Uma (que Kingu segura em sua mão), Três (que Kingu usa como armadura sobre seu peito) ou Doze (que Kingu usa em um cordão no pescoço). Quem tiver a posse destas Tábuas tem poder sobre todo o Cosmos.

Kingu rege aspectos de dinamismo, agressividade, êxtase, ímpeto sexual, destruição ou fortalecimento. Também permite um melhor controle dos outros dragões, devido à sua autoridade sobre eles.

Musmahhu

Selo de Musmahhu

Musmahhu aparece como uma serpente ou dragão de sete cabeças, e é identificado com a constelação da Hidra. Também pode aparecer como uma serpente cega com chifres que segura um olho em seus dentes, como uma serpente cíclope, ou como uma cobra com cabeça na forma de crânio.

É relacionado a visões e à sabedoria do que ocorre à distância. Pode ser utilizado para despertar o terceiro olho, e esta habilidade pode ser utilizada tanto para navegar pelo plano astral quanto para agir à distância. O magista se torna uma serpente que navega pelo éter e tem o poder de curar ou envenenar os duplos etéricos que encontrar em seu caminho. O contato com Musmahhu provê visões de jardins e campos floridos, com árvores que representam a transcendência a planos mais elevados e buracos que permitem o contato com planos mais densos.

Musussu

Selo de Musussu

Musussu se apresenta como uma besta híbrida entre serpente, leão e pássaro. É associado com vários deuses e personagens mitológicos Babilônios, como Ninazu, Tispak e Ningishzida. Também pode se mostrar como uma mulher vampírica, uma serpente alada, ou um misto entre dragão e morcego.

Suas habilidades permitem ao magista moldar seu corpo astral para que voe pelo éter e sugue a energia vital de pessoas. Também pode trazer almas desencarnadas para conversarem com o magista em um espelho, bastando para isso escrever o nome do falecido em um tecido e molhar com sangue. De forma mais geral, está relacionado à união entre vida e morte, Eros e Thanatos.

Basmu

Selo de Basmu

Dentre as manifestações de Basmu, podem ser ressaltadas a de uma serpente venenosa e a de uma serpente com chifres, com ou sem um par de pernas. A cobra egípcia Uraeus também era chamada de Basmu pelos Ácades, e Basmu é relacionada à constelação de Serpentário. Pode ou não aparecer voando.

Tem como um de seus significados a união entre os elementos de fogo e água, e pode fazer com que o magista tenha visões apocalípticas, de desastres e terremotos. Fala sobre finalizações e fim de ciclos, mostrando paisagens com lava, gelo, e restos de um mundo destruído. Provê capacidade de manipular o fogo astral, que pode ser utilizado tanto para proteção quanto para ataque.

Usumgallu

Selo de Usumgallu

Usumgallu aparece como um dragão dourado ou como uma serpente alada de ouro. Pode também aparecer como uma cobra naja, hipnotizante com seus olhos vermelhos. Em algumas ocasiões, se divide em dois: uma cobra prateada e uma cobra dourada.

Tem a capacidade de moldar a aura do praticante na forma de um dragão dourado, e também permite que ele envie energias de equilíbrio para quaisquer alvos pelo plano astral. As cobras prateada e dourada representam as qualidades opostas da Kundalini, e por este motivo Usumgallu se relaciona ao equilíbrio entre as energias masculina e feminina, provendo empoderamento e iniciativa, ou mesmo ânimo e bem-estar para o magista.

Lahamu

Selo de Lahamu

Lahamu, Lahmu ou Lahami é uma entidade cujo nome significa “o peludo”. Aparece como um guerreiro com longos cabelos de fogo, e uma serpente entalhada em seu cetro. Pode ser acompanhado por sua consorte, que tem seis braços com lâminas nas pontas.

Suas qualidades são de energização, com o poder da eletricidade e das tempestades. Está relacionado ao ímpeto de ir à guerra, com a força do trovão e sem poder ser parado. Pode promover um estado de êxtase combativo ou berserk caso desejado. Seus raios também podem ser usados para atingir inimigos no plano astral de forma precisa e rápida, e este dragão provê visões de altares esquecidos no meio do deserto, onde era cultuado.

Ugallu

Selo de Ugallu

Ugallu, “A Grande Tempestade”, é relacionado aos tufões e ciclones. É descrito com o uma entidade com cabeça de leão associada a deuses do submundo como Nergal. Pode também aparecer como uma mulher translúcida e diáfana com sons de rugidos de leão e ventanias.

Ugallu pune os transgressores e tem o poder de trazer doenças, estando relacionado aos elementos ar, eletricidade e água. Seus ventos podem influenciar situações diversas, agindo sobre a matéria, moldando eventos e mudando o rumo de situações. Pode também mudar a forma do magista por meio da manipulação do ar, causando ilusões, da mesma forma que muda a sua própria aparência.

Uridimmu

Selo de Uridimmu

Uridimmu representa os “cães raivosos”, e pode se apresentar como um leão ou lobo com cabeça humana, ou ainda uma criatura na forma de um centauro com corpo de leão. Está relacionado à constelação do Lobo, e pode ser associado à divindade Kusarikku, que tem aparência de touro.

É regente do deserto escuro e da noite. Pode prover a habilidade de ver no escuro, enxergar elementos que estejam ocultos, e por extensão desativar magias de ocultamento. Além disso, pode envolver o magista em uma nuvem negra que o ocultará, e permite que consuma a forma vital de seus inimigos. Tem o poder de tornar mais difícil a detecção do magista em suas práticas.

Girtablullu

Selo de Girtablullu

O Homem-Escorpião Girtablullu ou Akrabamelu é representado de diversas formas na arte Ácade, entre elas um escorpião com cabeça humana, pernas de ave, asas, e um pênis com cabeça de cobra. É associado aos personagens da lenda de Gilgamesh que guardam a montanha onde o Sol nasce.

Na mitologia antiga, esta divindade movia os corpos celestes com suas pinças de escorpião, e era associada com a constelação de Sagitário. Tem o poder do veneno astral, e oferece ao magista um cálice contendo o “Veneno de Deus”, com alta capacidade de transformação. Tem regência sobre as criaturas que vivem no subterrâneo, e permite que o praticante molde seus sentimentos e emoções, gerando uma carapaça externa resistente como a de um escorpião.

Umu Dabrutu

Selo de Umu Dabrutu

Esta entidade também é associada a fenômenos meteorológicos, sendo chamado “As Grandes Tempestades”. Aparece como um vórtice negro com os olhos brilhantes de uma besta em seu centro, ou como uma criatura com tentáculos e asas de fogo. Está muitas vezes associado a nuvens ou fumaça.

Sua atuação une os poderes dos ventos aos poderes do trovão e da eletricidade, agindo para dissolução, dispersão, quebra e promovendo a desordem ou o rompimento de uma ordem pré-estabelecida. Tudo o que estava fixo pode ser destruído antes de ser organizado de forma diferente.

Kulullu

Selo de Kulullu

Kulullu é chamado “O Homem Peixe”, tendo associação aos Anunnakis e entidades íctias muito presentes na cultura Babilônia. Associado à constelação de Aquário, também pode ser relacionado a sereias, tritões, e a híbridos entre aranhas, polvos e peixes. Vive em abismos aquáticos.

Kulullu age nas camadas mais profundas da psiquê, podendo ajudar a analisar sonhos, ou mesmo causar sonhos e pesadelos específicos no magista e em outras pessoas. Sua evocação funciona melhor quando feita em um espelho d’água, e aspectos de podridão e degeneração podem acompanhá-lo tanto no sentido mental quanto no sentido material. Além disso, conteúdos mentais podem ser dissolvidos pelo uso deste dragão.

Kusarikku

Selo de Kusarikku

Associado à constelação de Capricórnio, é mencionado no Enuma Elish como o Homem-Bisão. Também adquire formas de touro ou minotauro, e pode carregar o disco solar, lutando contra bestas e protegendo o magista. Corresponde ainda a Moloch, o rei entronado com chifres.

É regente das almas queimadas e daqueles que morreram no deserto, tendo forças dinâmicas e criativas, moldando e criando o Cosmos a partir do Caos. Sendo assim, pode ser relacionado à Terra, a aspectos materiais, como ouro ou riquezas. Provê visões astrais onde o praticante segura argila, e com essa argila ele pode moldar o que quiser materializar em sua vida, no plano físico.

Métodos de Evocação e Invocação

“Tiamat! Leviathan! Lotan! Tannin! Yam! Nahar! Rahab! Behemoth! Tehom! Hubur! Theli! In Nomine Draconis, Ho Ophis Ho Arch ai os, Ho Drakon Ho Megas!” — trecho do ritual dracônico de abertura.

Assim como em outras vertentes mágicas que incluem entidades, os rituais usando os dragões podem ser classificados em dois tipos principais: ritos de evocação e ritos de invocação. Nos rituais de evocação, os dragões são chamados a se apresentarem à frente do magista, ocorrendo uma conversa em busca de conselhos ou uma negociação objetivando um determinado intento. Já nos rituais de invocação, o arcabouço psicológico do magista é sintonizado com os aspectos do dragão, e são trazidas até ele as qualidades desejadas para que ele possa resolver alguma questão pendente.

Para o trabalho de evocação, é escolhida uma área ou um meio onde a entidade irá se manifestar, como um espelho, a fumaça de um incenso ou uma bola de cristal. As energias são direcionadas para o local escolhido com ajuda do selo e de algum elemento provedor de energia, como ofertas de metais, sangue ou animais. Pode ou não ser acompanhado de outras manifestações físicas ao redor do magista, e as mensagens podem ser passadas de forma verbal, telepática ou por visões.

Para o trabalho de invocação, primeiramente podem ser usadas técnicas de dissolução de ego, se tornando mais receptivo a energias externas e diminuindo a influência da mente consciente sobre os pensamentos. A gnose e a meditação podem ser aliadas ao êxtase sexual com essa finalidade, e saliva, sêmen ou sangue podem prover um elo com o magista quando colocados sobre os selos que serão ativados.

Outro tipo de trabalho possível é o de sonhos, quando as mensagens trazidas pelos dragões são mais simbólicas, e são obtidas dormindo-se normalmente ou de forma cerimonial na presença dos elementos ritualísticos.

A Chave e o Portal

A Chave

Nos rituais dracônicos, pode ainda ser seguida uma narrativa de morte e ressurreição mediada pelo útero de Tiamat. Neste caso, o magista performa um retorno ao útero, entrando nos Portões da Noite, onde irá conduzir a operação. A gestação prepara o magista com as qualidades selecionadas, e prepara a intenção para ser entregue ao mundo de forma a se materializar na vida do magista. A entrada no útero pode ser realizada usando uma chave, que deve ser desenhada em uma base que tenha ligação com a Terra (pedra, metal, madeira ou papel) ou mesmo desenhada no ar no momento do ritual.

O portal para penetrar o útero, que pode ser preparado usando os mesmos materiais que a chave, contém os 11 símbolos dos filhos de Tiamat, estando preparado para que o magista performe qualquer tipo de intenção. Este portal também pode ser manufaturado em um meio definitivo (entalhado em pedra ou madeira, ou mesmo no chão) e usado de forma contínua em um templo dedicado ao draconismo, sintonizando aos poucos o espaço com as energias dracônicas.

O Portal

Por: RoYaL.

Referência (incluindo os Selos): Asenath Mason — The Grimoire of Tiamat.

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