Tornando-se Nepri
Textos dos Sarcófagos, Feitiço 330
No Egito, Nepri era um deus associado aos grãos. Sua contraparte feminina era Nepit, também relacionada aos grãos, e ele pode ter sido associado a Tayt, deusa da costura e dos tecidos, como seu consorte.
Nepri, como um Deus dos grãos, é ligado à Osíris, originalmente o Deus da Agricultura. Posteriormente, Osíris assumiu aspectos funerários ao ser associado com o Oeste. Desta forma, Sokar, um Deus antigo do Submundo se tornou um aspecto de Osíris, assim como Khenti-Amentiu (Senhor dos Ocidentais). Com isso, adotou o visual “mumificado”.
“Eu entrei em Hu (o Verbo), as ofertas foram feitas e tudo está bem comigo, pois minha irmã está na minha presença.
É bom para os insetos e as cobras de meu pai, meu pai fez boas ofertas no céu.
Ó Sah, meu pai e minha mãe foram trazidos à mim.
Saí de Hu, entrei em Hu, saí do Grande Punidor, retirei seu crescimento de dia e a tarde devido ao barulho da terra quando ela a treme.
Tu deves fazer tremer aqueles que estão nas alturas de Shu, eu e Shu nos aproximamos das inertes (as Estrelas fixas).
Eu vivo e morro, sou Osíris, entrei e saí por intermédio de ti, eu cresci através de ti, floresci através de ti, caí através de ti.
Eu caí ao meu lado, os deuses vivem em mim.
Vivo e cresço como Nepri, a quem os honrados apreciam, a quem Geb oculta, vivo e morro, pois sou o grão e não perecerei.
Entrei na verdade e sustentei a verdade, pois sou possuidor da verdade.
Saí em verdade e minha forma se elevou; sou eu quem é eminente no santuário da Tumba de Osíris.
Entrei na verdade, atingi seu limite.
Sou como Ptah, meu caminho mais alegre está preparado, entrei e saí, cortei os ventos sobre a terra quatro vezes”.
Nesse texto, uma assunção de forma Deus, Nepri (associado à Osíris), diz que entrou no poder verbalizado de Rá, ou seja, tem o peso das palavras do Criador, e diz que está tudo bem pois Isis está com ele. Isso é bom para os animais de seu pai Geb, Deus da Terra, dos quais fez ofertas ao céu, Nut.
Ele clama ao seu Eu cósmico dizendo que Céu e Terra estão com ele, potencializados pelo Verbo. Diz que saiu de Geb (terra) retirando o crescimento do pai, que simbolizado pelo Grande Ganso Grasnador treme a terra quando fala, tamanha sua potência. Ele pede que Sah trema, ao invés da terra, os que estão na altura de seu avô Shu, Deus do Ar. Acima de Shu está Nut, o cosmos, e tanto ele quanto Shu se aproximam das estrelas, as Inertes no corpo de Nut.
Depois, finalmente, declara ser Osíris, o que renasce eternamente, mostrando o ciclo do grão (Nepri): entra e sai terra. Desce, germina, sobe, floresce, e cai de novo na terra de Geb. Os deuses vivem nele, pois através dele e seu poder, todos podem renascer eternamente. Nepri é apreciado pelos honrados (ou seja, os deuses), e é oculto mas entranhas a terra de Geb. Afirma que vive e morre, num ciclo eterno pois não irá perecer, é eterno. Este texto pode ser portanto relacionado ao ciclo do grão e também à capacidade de renascer depois de cada destruição ou esquartejamento.
Termina dizendo que ele está na Verdade (Maat) e a sustenta, pois é possuidor da verdade. Que saiu dessa verdade e se elevou como Sah, um ser Cósmico, sendo o principal do santuário da tumba de Osiris (ele mesmo se elevou e se transformou num Deus do cosmos), estando sempre no limite até onde Maat chega (ou seja, toda a Criação). Conclui afirmando ser Ptah, o Deus do Verbo, que criou o mundo através da palavra, e essa palavra (a dele) cortou os quatro cantos do mundo quatro vezes.
Observações: onde tem “insetos” também pode ser “moscas”. A mosca era simbolo de persistência. Amuletos nessa forma eram dados aos oficiais da o exército como condecoração. Hu é o verbo criativo divinizado de Rá, simboliza a potência das palavras do Criador. Sah é a estrela-deus associada ao corpo Cósmico de Osiris, e sua consorte é Sopdet (Sírius) associada ao corpo Cósmico de Ísis.
Traduzido a partir do inglês por: Allan Koschdoski.
