Vertentes Mágicas

Uma Taxonomia do Ocultismo

Projeto Xaoz
6 min readNov 1, 2018

Diversos paradigmas mágicos podem ser utilizados dentro do arcabouço da Magia do Caos, e estes paradigmas podem ser classificados de acordo com suas características gerais. Estas classificações não são de forma alguma pragmáticas, e dependem muito dos pontos de vista de análise, e dos significados dados a cada termo por cada magista. No Caoísmo, entende-se que os diversos paradigmas buscam expressar o mesmo mundo — o mundo das ideias, o Caos — mas não o expressam de forma unívoca e completa devido às limitações da linguagem.

Sendo assim, na Magia do Caos é possível utilizar o que for mais conveniente de cada paradigma em prol de um objetivo desejado, ou criar um sistema próprio.

Cabe ressaltar que as vertentes se encontram em um continuum entre as polaridades, não sendo sempre definidas de forma única ou absoluta, e que algumas vertentes são tão abrangentes que diversas linhagens coexistem dentro de si. Obviamente, não deve haver juízo de moral, em termos de bem e mal, ou hierarquia de maior ou menor poder entre as vertentes, independente de sua classificação. Sabendo usar as energias que forem adequadas, qualquer intento mágico pode ser realizado.

Imagem: espaço tridimensional de tendências mágicas.

Complexidade

Algumas vertentes mágicas utilizam cerimônias e ritos com explicações complexas sobre cada elemento usado. Outras utilizam elementos mais simples que evocam certos aspectos por associação, e não são necessárias fórmulas ou conceitos complexos para se realizarem e explicarem os rituais.

Estas seriam, respectivamente, a Alta Magia e a Baixa Magia — denominações que foram muitas vezes usadas à guisa de comparação e juízo de valor. Deixando de lado o tom pejorativo, esta classificação está relacionada a uma vertente mágica ter maior ou menor proximidade com a natureza, e utilizar as camadas mais instintivas e viscerais, ou as mais intelectualizadas e recentes — no sentido evolutivo — do cérebro.

No eixo de Baixa a Alta complexidades, podem ser utilizados elementos próximos da Natureza aliados a conjurações e textos oriundos da mente consciente humana. As explicações podem variar desde a simples atração de certos aspectos (magia simpática) até vibrações e frequências que causam a sintonia da mente com o Cosmos (lei da atração).

Alinhamento

O alinhamento diz respeito à definição dos objetivos de um ritual. Se esses objetivos são definidos de acordo com um plano já traçado, o destino, uma força superior do Cosmos (de fora para dentro), diz-se que a vertente é de Mão Direita. Nesse sentido, pede-se que venha “o que o magista precisa”, “o que for para o bem maior”, ou pede-se auxílio de tais “forças superiores”.

Caso os objetivos partam da intenção do magista, de sua vontade interna (de dentro para fora), diz-se que a vertente é de Mão Esquerda. Se forem usadas entidades, o magista irá barganhar com elas ou equalizar-se a seu nível vibratório para fazer valer sua intenção. Pede-se que ocorra “o que o magista quer”, “o que for da vontade do magista”, e pede-se auxílio a “forças de mudança e revolução”.

No eixo de alinhamentos Direita e Esquerda é possível se tornar Ambidestro. O Deus interno pode ser entendido como partícula de um Deus externo, e desta forma os objetivos de um ritual proveem de uma força superior e também da força interna do magista — a dualidade é rompida, e torna-se Um com o Todo.

Referencial

Em termos do referencial de processamento de um rito, podemos enxergar algumas vertentes Esotéricas, onde o inconsciente é ativado pela mente consciente do magista (por vezes através de leituras e estudos), e outras Exotéricas, onde o inconsciente é ativado por elementos externos (como objetos, cheiros, sons, estímulos visuais e movimentos corporais).

Nas vertentes esotéricas, os mecanismos também podem ser entendidos como conteúdos mentais, equilíbrio interno e aspectos psicológicos, enquanto nas exotéricas os eventos estão mais ligados a entidades, energias, e ao mundo ao redor do magista.

Já no referencial Esotérico e Exotérico, pode-se entender, como os egípcios, que conteúdos externos correspondem a conteúdos internos, e o uso de ambos em conjunto pode trazer benefícios. Da mesma forma, um aspecto interno pode ser plasmado externamente, e um aspecto externo pode ser trazido para dentro da mente.

Imagem: a teoria do movimento e a Kinesfera de Laban.

Magia Planetária

Segundo Kenneth Grant, com base nos trabalhos de Crowley, a esfera da consciência humana usa dez tipos principais de mágicka, relacionados aos planetas:

  1. Mágicka Terrena, a mágicka da materialização;
  2. Mágicka Lunar (melhor denominada como feitiçaria), a mágicka da bruxaria, glamour e ilusão;
  3. Mágicka Mercurial, que envolve técnicas como telepatia, radiação eletromagnética e fenômenos aparentados;
  4. Mágicka Venusiana, a mágicka do amor para fins terrenos;
  5. Mágicka Marcial, a da energia e dissolução de energia;
  6. Mágicka Solar, a mágicka da consciência humana em sua fase mais elevada e sublime (ex: conversação com o SAG);
  7. Mágicka Jupteriana, a mágicka da conservação e controle;
  8. Mágicka Saturnina, a mágicka da mudança e dos mistérios da morte;
  9. Mágicka Uraniana, a mágicka da Verdadeira Vontade; e
  10. Mágicka Netuniana, uma forma de Mágicka altamente secreta que envolve Controle dos Sonhos.

Haveria também uma décima primeira forma de Mágicka, desconhecida para os homens em geral — a Mágicka Plutoniana.

Exemplos de Classificação

Usando os conceitos de Complexidade, Alinhamento e Referencial, as vertentes mágicas podem ser analisadas e organizadas para fins de estudo ou de uso conjunto. As intenções mágicas, por sua vez, podem ser caracterizadas pelo caráter planetário da energia que trabalham.

Apenas como um exemplo, seguem algumas classificações de vertentes:

  • Qabalah — a magia relacionada à Qabalah judaica geralmente utiliza a árvore Sephirótica liderada por Ain Soph (mão direita), com análises filosóficas complexas (alta magia) e de forma a transmutar a mente em direção ao altíssimo (esotérica).
  • Qliphoth —nas práticas Qliphóticas, se contatam forças primordiais e ctônias (baixa magia), pelo poder interno do magista (mão esquerda), operando modificações a nível mental (esotérica).
  • Goécia Salomônica — na Goécia Salomônica, entidades são plasmadas no mundo externo com uso de instrumentos físicos (exotérica), os rituais têm verbalizações complexas (alta magia), e isto é feito sob a égide de um poder superior (mão direita).
  • Goécia Luciferiana — já na Goécia Luciferiana, embora entidades sejam plasmadas no mundo externo com uso de instrumentos físicos (exotérica) e os rituais tenham verbalizações complexas (alta magia), isto é feito sob a égide do poder interno do magista, que baixa sua vibração a nível das entidades que serão conectadas (mão esquerda).
  • Xamanismo — embora este seja um termo guarda-chuva para várias vertentes, na ótica dos pajés e xamãs de tribos indígenas são usados elementos da natureza (baixa magia) para atuar no mundo externo (exotérica) usando um poder concedido pelos deuses (mão direita).
  • Bruxaria — a bruxaria geralmente está relacionada à revolução por meio da vontade própria (mão esquerda), e utiliza elementos ligados à natureza (baixa magia) que são manipulados de forma externa para moldar o mundo (exotérica).
  • Yoga — a magia operada como um dos 8 caminhos do Yoga geralmente se dá pela ação da mente do magista, sintonizada pela respiração e posições (esotérica), seguindo o caminho da luz que foi definido por um poder superior (mão direita), e para isso usando apenas o próprio corpo e elementos simples (baixa magia).
  • Vama Marg — já no Vama Marg, uma vertente tântrica explorada por Kenneth Grant, são usados elementos simples, assim como o corpo humano e seus fluidos (baixa magia) para alcançar objetivos alinhados à própria vontade (mão esquerda), operando-se mudanças internas para assim agir no externo (esotérica).

Como mencionado anteriormente, esta é uma análise baseada em uma forma de aplicação das vertentes e em um critério analítico específico. Dentro de cada vertente, existem aplicações com outras polaridades, o que torna a taxonomia das vertentes mágicas uma prática viva, subjetiva e pessoal.

Imagem: exemplo de caracterização de vertentes.

Por: RoYaL.

Referências: Kenneth Grant — Aleister Crowley e o Deus Oculto.

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Este projeto visa compilar, analisar e desenvolver as bases do conhecimento de sistemas mágicos. Leia mais em: www.xaoz.com.br

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