Vesak

A Iluminação de Buda

Projeto Xaoz
6 min readJul 5, 2021

Algumas escolas budistas, como a Theravada, marcam a Lua Cheia de Maio como o nascimento, iluminação e parinibanna do Buda Gotama. Outras escolas, como a chinesa e tibetana, colocam esses três eventos em datas separadas. Para compreender a comemoração do Vesak ou Wesak, é necessário compreender quem foi o Buda Gotama e seu legado. Quem foi? Siddhattha Gotama, que se tornou um Arahant perfeitamente iluminado e Tathagata. Qual o legado? Seu Dhamma, que guia em direção ao fim de Samsara ou a liberação da roda dos renascimentos compulsórios.

História

O nascimento de Buda ocorreu em cerca de 563 AEC, em Lumbini, atual Nepal, dentro do Clã Shakya. Após o nascimento, ele foi tido como um predestinado a fazer grandes coisas e se tornar o maior contemplativo. Por isso, até a fase adulta, é dito que Siddhattha Gotama viveu isolado da sociedade em seu palácio e teve uma vida de excessos, tendo mulheres e tudo do bom e do melhor. Seu pai, líder do clã, arranjou para que o futuro Buda não se atentasse ao seu futuro trabalho. Na fase adulta, inconformado com a clausura e curioso com o mundo ao redor, fugiu do palácio em que morava. Ele saiu às escondidas três vezes e em cada vez teve contato com um mal maior da humanidade: pobreza, doença e morte. Após a terceira fuga, já conhecendo o sofrimento, decide abandonar a vida leiga e seguir como contemplativo, concretizando o destino profetizado após o nascimento.

Ele deixou a família e procurou mestres de Dhamma, tendo chegado no ápice de ensinamento de cada um dos mestres, procurando outro em seguida. No geral, o que eles ensinavam eram dhammas do ascetismo, consistindo na mortificação do corpo para liberação da mente, até Buda entender que o caminho correto não eram os excessos da época palaciana nem a mortificação em vida. O correto era o Caminho do Meio.

Então ele abandona o ascetismo e entra em meditação para compreender o novo caminho vislumbrado. Neste momento, ocorre sua Iluminação debaixo da Árvore Bodhi. Durante esse processo de dias em estado meditativo profundo, Buda sofreu diversas tentações de Mara, Senhor dos Assuras, mas conseguiu completar o processo de enxergar o novo Dhamma e atingiu o estado de Arahant e, em seguida, atingindo o estado de Buda, um Tathagata (Loka Sutta — Itivuttaka 112).

Por 45 anos, peregrinou junto à sua Sanga nas florestas indianas, de cidade em cidade, ensinando aqueles que queriam aprender a liberação através do Caminho do Meio, o Caminho Óctuplo. Cerca de 483 AEC, aos 80 anos, em Kushinagar, atual Índia, fez o último discurso, chamado de Maha-Parinibanna Sutta (Digha Nikaya 16), onde os Arahants da Sanga contam como foram os minutos finais antes do Abençoado abandonar o corpo e entrar em Nibbana, concretizando seu último ensinamento: A cessação do sofrimento.

É dito: “Então, o Abençoado entrou no primeiro Jhana. Emergindo dele, entrou no segundo Jhana … no terceiro … no quarto Jhana … na esfera do espaço infinito … na esfera da consciência infinita … na esfera do nada … na esfera da nem percepção, nem não percepção. Emergindo dela, ele entrou na cessação da percepção e sensação. Então, o venerável Ananda disse para o venerável Anuruddha: “‘Venerável Anuruddha, o Abençoado faleceu.” “Não, amigo Ananda, o Abençoado não faleceu, ele está na cessação da sensação e percepção.”

Então, o Abençoado, emergindo da cessação da percepção e sensação, entrou na esfera da nem percepção, nem não percepção. Emergindo dela, ele entrou na esfera do nada … na esfera da consciência infinita… na esfera do espaço infinito … depois os Jhana novamente e seu corpo não mais possuía uma mente.

Sakka, o senhor dos devas, recitou estes versos: “Impermanentes são as coisas condicionadas sujeitas à origem e cessação, tendo surgido, elas são destruídas, a sua cessação é a verdadeira bem-aventurança.”

Nobre Caminho Óctuplo

O Dhamma do Buda Gotama é chamado de Nobre Caminho Óctuplo. Ele é dividido em três agregados: linguagem correta, ação correta e modo de vida correto. Estes se dividem em oito caminhos:

1. Compreensão correta: Compreensão de acordo com as Quatro Nobres Verdades, de maneira a entender as coisas como elas realmente são.

2. Pensamento correto: O pensamento da renúncia, de desenvolver as nobres qualidades, não tendo má vontade em relação aos outros, não querendo causar o mal (nem em pensamento).

3. Fala correta: Abster-se de mentir, falar em vão, usar palavras ásperas ou caluniosas. Falar a verdade de acordo com a verdade a ser dita, ter uma fala construtiva, harmoniosa, conciliadora.

4. Ação correta: Abster-se de destruir a vida, abster-se de tomar aquilo que não for dado, abster-se da conduta sexual imprópria.

5. Meio de vida correto: um modo de vida equilibrado, nem perdulário nem mesquinho e que não cause mal a outros seres.

6. Esforço correto: Abandonar estados prejudiciais e as causas para futuros estados prejudiciais. Cultivar estados benéficos que tenham surgido e condições para futuros estados benéficos.

7. Consciência correta: Desenvolver consciência do corpo, fala e mente.

8. Concentração correta: Estabilidade e foco mental. Viver no aqui/agora.

Quatro Nobres Verdades

Este Dhamma óctuplo é centrado em quatro verdades, as Quatro Nobres Verdades (Khandha Sutta — Samyutta Nikaya LVI.13):

1. A nobre verdade do sofrimento: O Apego e seus Agregados, ou seja, os cinco agregados influenciados pelo apego, isto é, o agregado da forma influenciado pelo apego, o agregado da sensação influenciado pelo apego, o agregado da percepção influenciado pelo apego, o agregado das formações influenciado pelo apego, o agregado da consciência influenciado pelo apego.

2. A nobre verdade da origem do sofrimento: desejo que conduz a uma renovada existência, acompanhado pela cobiça e pelo prazer, buscando o prazer aqui e ali; isto é, o desejo pelos prazeres sensuais, o desejo por ser/existir, o desejo por não ser/existir.

3. A nobre verdade da cessação do sofrimento: É o desaparecimento e cessação sem deixar vestígios daquele mesmo desejo, abrir mão, descartar, libertar-se, despegar desse mesmo desejo

4. A nobre verdade do caminho que conduz à cessação do sofrimento: Nobre Caminho Óctuplo: entendimento correto, pensamento correto, palavra correta, ação correta, modo de vida correto, esforço correto, atenção plena correta, concentração correta

Comemoração do Vesak

Para encerrar, um ponto importante:

Budistas adoram o Buda? Não.

Não mesmo? Não.

Qual a postura de um budista com relação ao Wesak, então? O Abençoado entrou em Nibbana e não está mais aqui. Toda a comemoração é uma forma de homenagear quem ele foi e o legado que ele deixou, a saber, cessação do sofrimento com a ruptura de Samsara e experimentar a paz e felicidade ainda em vida. Então quando fazemos um puja, entoamos um mantra, ofertamos água, incenso e flores, não estamos adorando a imagem do Buda e muito menos ele como um tipo de deus. Estamos homenageando um homem, acima de qualquer coisa um homem, que foi capaz de mudar a consciência das pessoas através de seus ensinamentos, ser respeitado por Devas, Assuras e humanos, e girar a Roda do Dhamma, transmitindo esse conhecimento que nos permite a liberação.

Um objetivo interessante para o Rito é consagrar as energias que envolvem a Lua Cheia de Maio (Wesak), além de pedir proteção contra aqueles que atrapalham a ver a realidade como ela é. Durante a Iluminação, Buda Gotama teve que enfrentar os ataques de Mara, Senhor dos Asuras, que tentava evitar que ele visse a realidade como ela é.

Para quem quiser fazer algum trabalho astral, existe uma possibilidade “extra” de realizar algum feitiço para entrada e saída do submundo, atravessando os véus de forma mais fácil devido à energia que está sendo trabalhada. Um ritual bom para trabalho astral, quebra de ilusões, prevalência da verdade, derrota da morte e de seres inferiores através da verdade, proteção contra seres que nos impedem de ver a verdade e proteção contra doenças.

Por: Allan Koschdoski.

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